A Itinerante
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Etera

3) A vida sem Adriel

by A Itinerante - Neiva 27/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva



Um mês havia passado desde que fecháramos o Portal e que vivi dentro do palácio, praticamente apenas no quarto, deitada, chorando ou dormindo. Nos primeiros dias à base de calmantes naturais feitos pelas fadas que me deixavam praticamente inconsciente quando acordada. Após uma semana Tana diminuiu as doses e comecei a passar longas e intermináveis horas sem seu efeito, exposta à dor insuportável.

Elros queria que assumisse o trono de Etera, mas não quis. Pedi que continuasse sendo o regente até que estivesse melhor. Ele concordou, mas não deixava de consultar-me a toda hora quanto a decisões sobre o governo. Eu não queria saber de nada, mal estava ouvindo o que dizia, mas ele não desistia. Adriel se fora e não havia mais sentido algum na vida. Tanto fazia uma coisa como a outra. Será que ele não entendia???

O pior de tudo é que eu era culpada. Se tivesse ficado no barco, como Adriel pedira, não teria se jogado na frente da flecha para salvar-me, ou, antes ainda, se tivesse concordado em fechar o Portal quando Elros sugeriu, antes de nossa viagem. Se não tivesse brigado com Tana, Eileen não teria conseguido me envenenar e ele não teria interrompido o tratamento em Celes. Por todos os lados que olhasse, eu era a culpada. Eu matei Adriel, o meu anjo.

As pessoas sabiam disto. Como podiam continuar tratando-me com carinho. Como Elros poderia querer que assumisse o trono de Etera? Não era digna sequer de continuar vivendo, quanto mais de reinar sobre os elementais. Deveria morrer. Queria morrer. Queria tanto! Era meu maior desejo. Seria o justo, o correto.

Deus estava certo, entretanto, em negar-me esta benção. Tinha que viver sem Adriel, sentindo toda a aspereza da vida enquanto vivesse. Era meu castigo por tê-lo matado e estava correto. Entendi porque Tana não queria dar-me mais remédios: não merecia a névoa branca da inconsciência que provocavam. Eu tinha que ser punida.

Mas não era culpada sozinha e sabia disto. Eileen. Quando este nome surgia em minha mente, meus dentes rangiam com a raiva e o ódio. Eu a mataria com minhas próprias mãos se pudesse, se ficasse frente a frente com ela. Perguntei a Tana se não existia algum encantamento que pudéssemos fazer à distância, contra ela, mas respondeu que a mágica dos elementais não eram para o mal.

Passava então horas imaginando formas de assassinato. De Eileen e daquele demônio, Yzar. Em minha mente via-me ressurgindo poderosa, com um exército de elementais treinados e letais, invadindo seus esconderijos e matando-os de formas diferentes a cada vez. Por fim conclui que morrer seria bom para eles. Não. Eles tinham que ser capturados apenas. Levaríamos para uma prisão que construiria em Etera e passaria o restante de minha vida torturando-os, bem lentamente. Cortaria Eileen todos os dias e deixaria sangrando. Quando cicatrizasse, faria outro corte. Não… Melhor ainda. Após o corte, passaria sal e pimenta e deixaria arder, para que sentisse só um pouquinho de minha dor. Arrancaria fora seus olhos, para que não pudesse ver nada, como eu também já não via, cega pela tristeza.

Não recordo quando comecei a conceber que não éramos os únicos culpados. Em última instância era Deus o responsável. Sim. Deus. Ele permitira que isto ocorresse. Não diziam que não havia um grão de areia que se movesse na Terra sem sua autorização? Como Ele pôde fazer isto conosco, comigo? Porque deu Adriel e toda a felicidade de nosso amor para em seguida retirá-la desta forma irreversível? Ele estava brincando com minha vida? Era apenas um joguete em suas mãos? Uma distração para seu tédio? Passei a odiar Deus tanto quanto Eileen, Yzar, mas nada comentei com Tana. Sabia que não adiantaria. Que O defenderia, dizendo que escreve certo por linhas tortas.

Eu era impotente frente a Deus. Tive que reconhecer que nada poderia fazer contra Ele, que Dele não poderia vingar-me. Imaginava como estava divertindo-se com minha dor, com minhas lágrimas e minhas mãos fechavam-se até que as unhas penetrassem na carne, de tanto ódio que sentia.

Será que Adriel nunca vira como Ele era injusto? Como zombava e gracejava brincando com nossas almas como se fôssemos bonecos de corda? Por que Adriel não viu? Por que me abandonou?

Quando começava a culpar também meu Adriel, meu lindo e inocente anjo, pela ausência em minha vida, pela dor que sentia, recuperava um pouco de lucidez. Pedia-lhe perdão, envergonhada e arrependida e estremecia de temor de que Deus levasse a sério minhas ofensas e desculpava-me também com Ele. Implorava para que entendesse que só pensava aquelas coisas por estar meio enlouquecida de dor.

Então vinha a esperança de Ele entendesse o quanto estava sofrendo e que o trouxesse de volta para mim. Prometia-Lhe que seria boazinha, que voltaria minha vida para o bem, para ajudar os elementais e transformar Etera em um reino de amor, dedicado a ele e adormecia rezando todas as orações que conhecia.

Mas no outro dia, quando acordava, Adriel não voltara e todo o ciclo de pensamentos recomeçava. A atividade mental era tão intensa e barulhenta dentro de minha cabeça que não suportava os ruídos exteriores. Uma simples palavra que diziam e para qual tinha que voltar a atenção, interromper mesmo que por um segundo a torrente de pensamentos que jorravam em meu cérebro, provocava imensa dor. Os ruídos externos pareciam estrondos quando penetravam em meu caos. Por isto isolava-me no quarto e ainda não sendo suficiente passei a usar tampões de ouvido, presos por um lenço em torno de minha cabeça.

Eles traziam-me a comida, mas como poderia comer quando era culpada pela morte de Adriel? Uma bola se formava em minha garganta e impedia a passagem de qualquer alimento. Tana descobriu que conseguia ingerir alimentos líquidos e passei a alimentar-me das vitaminas que ela preparava. Ainda assim, naquele mês emagreci muito, ficando esquelética, com os ossos surgindo por entre a pele, braços e pernas tão finos que quase se podia enxergar por entre eles.

Também não conseguia ver o sol, pessoas sorrindo ou apenas alegres, música e nada que fosse belo. Tudo que era bom e bonito fazia recordar-me ainda mais intensamente dele. Machucava insuportavelmente.

Não havia fuga possível para a dor, porque a ausência do belo também fazia doer pelo contraste com as lembranças que não podia deter. As recordações surgiam atreladas a palavras inofensivas, sem que conseguisse controlar. Tudo trazia Adriel e nossa felicidade perdida de volta.

Para tentar isolar-me passei a imaginar-me dentro de um ovo. Visualizava-me suspensa no ar, em posição fetal e dentro de uma bolha transparente. Recobria esta bolha com camadas e mais camadas isolantes e ao final acrescentava um vácuo. Tudo que viesse até mim, esbarraria neste vácuo e retornaria. Se fosse forte e conseguisse prosseguir além do caos, daria com a camada isolante e também retornaria. Dava um pouco de resultado, mas exigia concentração. Bastava uma distração e tinha que refazer todo o processo.

Sentia-me esgotada e muito próxima à loucura que desejava. Perder a razão seria doce e bom. Implorava a Deus que permitisse ao menos este consolo. Imaginava-me demente, vagando por Etera, na suave inconsciência, eternamente feliz com Adriel.

Perdida nestes processos mentais, não percebia a passagem das horas e nem mesmo dos dias. Não tinha noção de quantos haviam corrido desde que estávamos ali. Poderia ser uma semana, um mês ou um ano.

Uma manhã Elros entrou no quarto, como sempre fazia, para consultar-me sobre Etera. Não queria ouvir. Disse-lhe que fizesse como achasse melhor. Que não me importava.

– Não se importa? É seu reino, seu povo. Eles precisam de você, Maise!

– Não posso, Elros. Vá embora. Deixe-me.

– Você se acha o centro do universo, não é? E está certa. Você é o centro deste universo e vou lhe mostrar.

Pegou-me a despeito de meus protestos e voou comigo para fora do palácio. Esperneei, gritei, esmurrei-o sem que parasse. Como todos os elementais sua força era superior à minha. Sobrevoou comigo jogada em seus ombros por toda a Etera até que eu começasse a vê-la e imobilizei-me aturdida.

O que acontecera ali? Onde estavam as flores exuberantes, o verde luxurioso, as árvores frondosas, a relva macia, o brilho transparente do lago, os sons e a música que sempre houve neste lugar? Porque todas as casas estavam à beira da ruína, com a pintura descascada, telhados caindo? De onde viera todo o lixo que se espalhava pelas ruas, nos portais das residências e em torno do lago?

– Elros, pare. Desça-me. – Ele obedeceu e pousamos na borda do lado, em frente ao palácio.

– O que houve aqui? Fomos invadidos, atacados? Não disse nada sobre isto. Foram os demônios ou os Elfos Negros? – Indaguei, perplexa.

– Foi você, Maise. O reino dos elementais é apenas um reflexo de seus moradores. Os elementais são seres extremamente sensíveis e reagem aos sentimentos de sua rainha. Todos vivem sua dor e são tão tristes como você. Como poderiam dar vida à beleza, se sua rainha está sofrendo?

Afastei a cortina de águas que nublavam meus olhos e por longos minutos observei a devastação ao nosso redor, entendendo o alcance do que ele tinha dito.

– Por favor, Elros, leve-me de volta e convoque todos para um comunicado da Rainha de Etera.

Texto registrado no Literar.

Imagem: desenvolvida por mim à partir da imagem da mulher (fonte desconhecida).

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2) O fechamento do Portal de Etera

by A Itinerante - Neiva 22/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva




Não vi. Contaram-me depois que vovó e mamãe cercaram-me na pedra e envolveram-me em energias calmantes até que adormecesse e só partiram após um longo e cúmplice olhar com Tana. Ela providenciou para que Elros carregasse-me até a cabana e ficou velando-me o tempo todo em que dormi, e Niis também não saiu nem por um segundo dos pés da cama, dormindo ali no chão mesmo.

Mais de 12 horas depois, quando acordei, tive uma certeza apenas: Adriel não morrera, apenas abandonara o corpo físico. Ele estava recuperando-se em algum lugar, provavelmente em Celes e voltaria assim que pudesse. Imbuída com esta certeza, não chorei mais e comecei a tomar as providências que se faziam necessárias, enquanto aguardava seu retorno.

A primeira e mais importante foi pedir a Eliah para ir a Celes e trazer-me notícias. Ele foi prometendo voltar tão rápido quanto pudesse. O corpo de Adriel foi colocado em um caixão fechado, mas não enterrado, pois não sabia se precisaria dele ao retornar e decidi deixar para ele decidisse o que fazer.

O complexo estava semi-destruído e nossa casa uma completa bagunça, com todos os móveis e objetos revirados ou quebrados. A equipe de Adriel aguardava instruções e já ia colocar todos para organizar e limpar tudo quando Elros e Tana chamaram-me para uma conversa.

– Maise, não pode continuar aqui. É muito arriscado. Está desprotegida. Yzar e Eileen foram derrotados por você, mas retornarão. Temos que voltar a Etera e fechar o Portal. – Elros disse.

– Não podemos ir antes que Adriel retorne. Ele já deve estar voltando. – Argumentei. Eles olharam-se.

– Mesmo que volte, não é viável que permaneçam aqui. É um risco para todos. Adriel concordaria comigo. – Insistiu ele.

– Talvez possamos ir realizando alguns preparativos para a mudança enquanto esperamos então. O que ele faria com a equipe do Complexo? São todos humanos. Não iriam para Etera.

– Dê férias a todos. Diga-lhes para irem para suas casas de origem. Providencie pagamentos futuros e peça para que aguardem até serem convocados de volta. O que acha?

– Sim. Pode ser. E quanto às casas e estruturas?

– As fadas podem fazer um encantamento de ocultação e eles ficarão protegidos enquanto você estiver em Etera, menina. – Era Tana agora, anormalmente séria.

– Está bem. Vamos organizar e deixar tudo pronto até o retorno de Adriel. Ele deve voltar com Eliah. – Mais uma vez percebi aquele olhar entre Tana e Elros, mas no momento não queria saber seu significado. A ausência de Adriel, mesmo que temporária doía e deixava-me em um estado confuso e um tanto quanto irreal, como se nada fosse realmente verdade e estivesse em um sonho.

Telefonei a François avisando que Adriel e eu faríamos uma longa viagem, sem data para retorno e pedindo para que cuidasse dos quadros de papai. Também avisei aos advogados e instrui-os para investimentos em fundos seguros. Antônio mais uma vez concordou em cuidar da cabana em nossa ausência e ficou com as chaves, após uma despedida emocionada e carinhosa.

Uma semana se passou desta forma nebulosa em que ocupei todas as horas do dia com os preparativos para a mudança e à noite adormecia exausta em meio à tristeza e saudades.

Não tocávamos no nome de Adriel e todos falavam baixinho, andavam silenciosamente e olhavam-me com o canto dos olhos. Eu sabia o que pensavam, mas estavam errados e quando Adriel voltasse veriam que eu tinha razão: ele estava vivo, recuperando-se em Celes.

Eliah voltou ao final de uma semana daqueles eventos. Deve ter chegado muito cedo, pois quando acordei já estava na sala, onde todos também estavam reunidos. Tana, Elros, Niis, Gnom e muitos outros.

– Eliah! Quando chegou? Devia ter me acordado. Como está Adriel? Ele veio com você? – Olhei por toda a sala em sua procura.

– Maise, Adriel não está em Celes e nem em parte alguma. Demorei para voltar porque ficamos tentando rastrear sua essência pelo universo. Se ele estivesse em qualquer lugar teríamos encontrado. Sinto muito ter que dar-lhe esta notícia.

– Como assim? Ele tem que estar em algum lugar.

– Lembra-se do que ele contou sobre a mutação genética e do que aconteceria com seu espírito se algo danificasse seu corpo? É importante que lembre, Maise.

Busquei a lembrança de nossa conversa sobre o assunto, mesmo sentindo a mente confusa. O que mesmo ele dissera? A lembrança veio de repente, velozmente:

“Não vou te enganar, Maise. É muito ruim sim. Porque você, quando morrer aqui, continuará vivendo no mundo fluídico com seu corpo leve e eu não. Nós dois temos apenas esta vida juntos e não mais a eternidade. Quando eu morrer, meu espírito vai se espalhar pelo universo, sem ter um corpo para contê-lo como os humanos.“

– Espalhar pelo universo… Sem um corpo para conter… – Repeti lentamente as palavras enquanto o significado de suas palavras espalhava-se pela minha mente e senti-me despencar em um precipício branco e cujo fim parecia não existir.

Quando voltei à consciência estava deitada no sofá e Tana passava um vidro próximo a minhas narinas. Abri os olhos e soube. A dor que senti foi tão forte e intensa que deixou-me completamente sem ar e Tana teve que socorrer-me com seus sais novamente.

Eu não conseguia falar. A onda de dor espalhou-se de tal forma que tinha receio de que uma palavra fosse suficiente para que transbordasse e afogasse-me, perdendo-me ainda mais nela. Eu sabia que oscilava perigosamente entre a fina linha divisória da sanidade e da loucura e usei o fiapo de controle que restava para ficar quieta.

Se eu não fizesse nada, se não me movesse e, principalmente, não falasse, talvez houvesse uma chance pequena de sobreviver. Não era difícil não me mover. A dor era tão avassaladora e preenchia tanto todos e qualquer recanto de meu corpo que seria impossível qualquer gesto. Difícil era respirar. Cada sopro de ar que entrava em meus pulmões intensificava a dor, que era era fina e aguda e não sei por que pensei em uma faca perfurando meu coração e a partir daí comecei a pensar nisto não como dor e sim como “a faca”.

Algumas pessoas sobrevivem semanas, meses e até anos com facas e objetos cortantes em órgãos internos. Estando bem encaixada era possível, desde que não fosse retirada ou não se movesse. Se fosse retirada abruptamente, o sangue jorraria incontrolável, provocando quase que certamente a morte. Se fosse movida, poderia cortar alguma veia ou vaso importante e resultar no mesmo efeito.

Então, eu tinha uma faca em meu coração e minha sobrevivência dependeria de que ela permanecesse ali, imóvel. Por este motivo não queria me mover, falar e nem mesmo pensar.

Agradeci a Tana pelo remédio que deu e que deixou-me flutuando em um mundo de brumas, onde os pensamentos não existiam e a dor tornava-se algo suportável.

Eles quiseram enterrar Adriel, mas discordei com gestos. Não deixaria meu Adriel ser comido por vermes. Após várias hipóteses recusadas, concordei com um funeral viking. Era o que melhor combinava com ele e o que restava dele iria aos céus em seu encontro.

Eu não queria ir à cerimônia, mas obrigaram-me a estar presente. Disseram que era necessário, que eu tinha que ver para aceitar, conceber interiormente. Enfim… Que custava-me ainda isto? Que diferença faria se queimassem meu Adriel, quando meu coração já era apenas cinzas, apenas resquício do viço passado, quando fomos felizes, ele e eu?

Tivesse certeza da aniquilação de meu espírito e queimaria-me junto ao meu amado, para subir com suas cinzas e juntar-me às suas centelhas espalhadas pelo universo, mas nem mesmo este pobre consolo tinha, pois meu espírito sobreviveria à morte de meu corpo.

Estava condenada à dor e tudo o que podia fazer era rezar baixinho implorando a Deus para que parasse de doer ou que ao menos fosse suportável o suficiente para que continuasse a respirar.

Mas quando, nesta noite mesmo, os gnomos arqueiros atiraram suas flechas do alto do paredão rochoso da laguna em direção ao barco lançado ao mar e meu doce, terno e meigo Adriel começou a queimar, não consegui mais respirar e deslizei rumo ao breu mais uma vez.

Quando acordei, já na manhã seguinte, nada mais restava a fazer do que partir para Etera. Não quis levar nada mais do que o anel e o Tsuru presenteados por Adriel. Todo o restante permaneceu lacrado por magia.

Liah despediu-se de nós no Portal. Com o Portal lacrado e o complexo fechado, não via motivos em continuar como responsável por aquele protetorado. Deixaria, aliás, de ser anjo e viveria a experiência humana ao lado de uma das antigas assistentes de Adriel, Michelle, e parecia feliz ao seu lado. Despedimo-nos com um abraço triste.

Entrei no Portal de Etera amparada por Tana e Niis e assim que cheguei do outro lado utilizei meu medalhão para lacrar o Portal.

A partir daquele momento nenhum Elemental sairia de Etera e nenhum humano entraria. O portal entre humanos e encantados estava lacrado pra sempre.

…

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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TRILOGIA DO ANJO – ETERA – 1) Retorno a Portal do Sol

by A Itinerante - Neiva 19/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva

Chegamos a pouco a São Luis. Fazia já três semanas que havíamos nos casado e que estávamos navegando pela costa do nordeste brasileiro. Mais uma semana apenas e voltaríamos para casa.

Casa… Sorri ao sentir a sensação quente e reconfortante ao pensar em Portal do Sol e em nossas duas casas, a maior de Adriel onde viveríamos e a cabana que seria sempre nosso refúgio.

Olhei para ele recém saído do chuveiro e admirei-me ainda uma vez por sua beleza, sem conseguir ainda acreditar que aquele monumento de homem fosse meu marido e que fôssemos tão felizes.

Estávamos preparando-nos para desembarcar quando seu celular tocou. Paramos um segundo olhando-o intrigados. Não tocara nestas semanas. Nós é que tivemos que ligar para casa depois de algum tempo, em busca de notícias.

Adriel atendeu, ficou ouvindo sem quase falar e desligou dizendo que estávamos indo.

– Era Elros. O complexo e o Portal estão sendo atacado por demônios e elfos negros.
Parece que a situação é séria. Temos que ir agora. – Ele falou apressado ao mesmo tempo em que colocava o restante das roupas.

– Como iremos, amor? De avião? De barco demoraremos muito.

– Mesmo com avião não daria tempo. Deixaremos o barco aqui e vamos voando. Está pronta?

– Adriel, sinto uma sensação ruim. Sei que não podemos deixar de ir, mas tenho medo.

– Também sinto, pequena. Fique aqui à minha espera. Voltarei assim que puder e continuaremos nossa lua de mel. – Ele tinha sentado à beira da cama, comigo ao seu colo, como sempre fazia quando queria que eu prestasse atenção. Uma de suas mãos segurava as minhas enquanto a outra arrumava um cacho de cabelo atrás de minha orelha.

– Não. Nem pensar. Ficaria louca aqui, sem notícias suas e além disto, é meu povo também e minha responsabilidade. Se tivesse concordado com Elros e fechado o Portal eles estariam seguros.

– Fechar o Portal estava fora de cogitação. Você não poderia perder contato com seus únicos parentes. Não se culpe. – E beijou-me no rosto, carinhosamente, ao dizer isto.

– Pode ser, mas quero ir junto e estamos perdendo tempo com esta conversa. Vamos.

– Está certo, querida. Apenas quando chegarmos ficará fora da área de luta, Não quero que corra perigo.

Levantamo-nos e antes de partir, agarramo-nos, trocando um beijo esfomeado.

Adriel pegou-me em seus braços tão fácil como se fosse um pacotinho de 1kg de arroz e voou em direção às nuvens para não despertar atenção.

Ele voou o mais rápido que pode e chegamos a Portal do Sol em menos de 20 minutos. Do alto avistamos explosões em várias partes do complexo, deixando rastros de fumaça escura.

Pousamos na varanda de nossa casa onde a confusão parecia se concentrar, com uma profusão de anjos e demônios lutando em duplas em meio a elementais de Etera engalfinhados com elfos negros.

Apontei a Adriel um dos cantos e seguindo meu olhar deu com Yzar e Eileen que apenas observavam o desenrolar da disputa. Ambos estavam ricamente trajados e em pose altiva, denotando serem os líderes dos invasores.

Alguns anjos de Celes estavam próximos, procurando chegar até o bandido, mas sem conseguir passar pela sua guarda. Avistamos Gnon Knur comandando um grupo de arqueiros que atiravam flechas explosivas contra os demônios e vários outros elementais conhecidos envolvidos na luta.

Elros chegou por trás de nós, usando um escudo e uma espada para bater naqueles inimigos que se aproximavam.

– Adriel, Maise! Que bom que vieram, mas precisamos tirar Maise daqui e levá-la até onde estão as mulheres e crianças.

– Onde está Tana? E Niis? Estão seguros? – Indaguei ao lembrar-me de meus dois melhores amigos.

– Sim, mas recusaram-se a ficar no abrigo e estão na defesa do Portal, com o restante dos Gnomos e Fadas.

Os demônios tinham percebido nossa presença e é lógico que agora se aproximavam ávidos para o ataque. Adriel era seu maior inimigo e eu era a herdeira de Etera. Éramos os melhores alvos.

Elros protegia-nos com o escudo e Adriel fazia uma pequena ventania com suas asas, dificultando a aproximação.

– Vamos, Maise. Vou tirar você daqui. – Ele disse.

Tudo aconteceu em breves segundos, mas foi tão intenso que pareceram durar horas.

– Olhem o anjinho chegou. Trouxe a amada como escudo? – Yzar falou, concentrando as atenções.

– Fique longe dela, Yzar. Sua disputa é comigo. – Respondeu Adriel, abraçando-me.

Foi neste momento que vi minha avó Selena e minha mãe Luna surgirem na frente dele, caminhando para minha direção com expressões preocupadas.

– Vovó, Mamãe! – Exclamei surpresa, enquanto um grupo que chegara pela lateral atacava Adriel e Elros com intensidade, fazendo-o soltar minha cintura e forçando-o a se defender.

Elas chegaram até onde estávamos e posicionaram-se ao meu redor. Percebi que estava sendo envolvida por uma camada energética grossa, apesar de transparente. Olharam-me sorrindo e pegaram em minhas mãos.

Distraídos como estávamos, Adriel e Elros lutando com o grupo de demônios e eu com a presença de minha mãe e avó, esquecemos Yzar. Não vimos que dera forma a uma flecha de fogo e que a apontava em minha direção.

– Maise, cuidado! – Foi Adriel o primeiro a perceber quando ela já tinha sido atirada certeira em rumo ao meu coração.

Empurrou-me para o lado rapidamente e cai no chão, sem poder lhe contar que estava protegida pela barreira feita por minha avó e minha mãe.

Olhei para cima a tempo de ver a flecha atingindo-o em cheio e explodindo em seu coração.

– Adriel! Não!!! – Gritei, levantando enquanto ele tombava.

Aproximei-me junto com todos e fiquei desesperada com o sangue que saia de seu corpo e aquelas pessoas tampando todo o espaço. Não sei como fiz aquilo. Apenas quis que todos sumissem, desaparecessem, para que pudesse ver e ajudar Adriel direito. Senti a expansão da barreira que me envolvia, empurrando todos que estavam próximos para longe.

Quando me abaixei e vi seu estado, senti tanta fúria contra Yzar, Eileen, os demônios e elfos negros que não percebi estar canalizando este sentimento junto com a barreira em forma de forte vendaval que arrastou todos para os ares e para fora.

Ele estava inconsciente, agora quase todo coberto por sangue. Respirava ainda, fracamente.

– Adriel, amor, estou aqui. Ouve-me? Fique calmo. Tudo ficará bem. Vou chamar as fadas de cura.

Levantei a cabeça e só então percebi o silêncio e o final das lutas. Minha mãe e minha avó tinham desaparecido e Elros, Gnom e Liah aproximavam-se rapidamente.

– Maise. – A voz dele era muito fraca. Estava com os olhos abertos. Abaixei-me para ficar próxima ao seu rosto.

– Psiu. Não fale, querido. Eles já estão chegando.

– Não há mais tempo. Não se esqueça do que me prometeu. Procure ser feliz. – Cada frase era seguida por uma golfada de sangue.

– Quieto, amor. Descanse. Depois falaremos. – Eu estava apavorada e as lágrimas desciam sem controle enquanto tentava estancar o sangue que jorrava de seu peito.

– Eu te amo. – Adriel continuou a olhar-me com seus doces e ternos olhos verdes, mas a cabeça tombou em minhas mãos e ficou imóvel.

– Adriel!!! Resista, amor. Por favor, resista. Não me deixe. – Eu procurava sentir seu coração dilacerado pela flecha.

– Vovó, Mamãe! Por favor, ajudem-nos! – Pedi, implorando, mesmo sem vê-las.

Neste momento os três chegaram até nós e olhei para eles suplicante.

– Ele desmaiou. Por favor, tragam as fadas de cura, rápido!

Eles olharam para Adriel e trocaram olhares entre si. Então vi!

A camada de energia que sempre envolvera Adriel e que eu achava tão linda estava movimentando-se em torno de seu corpo e pequenas partículas brilhantes dispersavam-se, saindo dele e desaparecendo no céu.

– Façam algo, rápido! Ajudem-me! – Eu tentava com as mãos segurar o que ele chamara de aura e impedir que saísse de seu corpo, mas eram cada vez mais rápidas e não dava conta. Quando vi que atravessam minhas mãos, percebi a inutilidade do gesto.

– Eliah! O que está acontecendo? Porque a aura está saindo dele e dispersando no ar?

– Maise… – Ele abaixou-se e tentou pegar minhas mãos. Vi seu olhar entristecido e não quis sua aproximação.

Levantei-me tentando novamente segurar as centelhas brilhantes que agora eram como uma nuvem despregando-se de seu corpo. Logo estavam alto demais para que sequer as tocasse e vi quando sumiram no azul.

Olhei novamente para Adriel. Ele estava diferente. Era seu corpo, mas não parecia ele. Era só a casca vazia feita com as energias da Terra que aderiram ao seu corpo espiritual, pensei com um sopro de esperança. Adriel não estava ali. Onde estava?

– Eliah, para onde ele foi? – Sem esperar por resposta, saí procurando-o pela casa, dizendo alto seu nome.

Quando vi que não estava ali, lembrei-me da cabana. Sim! É lógico! Adriel estava lá, à minha espera.

Saí correndo pela praia, mal percebendo todos os anjos e elementais que rodeavam a casa em profundo silêncio.

Cheguei sem fôlego à cabana e abri com um empurrão a porta.

– Adriel! Adriel, amor, onde você está! Estou aqui. – A cabana estava vazia e parei alguns instantes, confusa.

– Sim. A praia. É para lá que foi para refazer-se. É o que ele faz quando precisa renovar energias.

Sai rápido e atravessei correndo a pequena trilha em direção à praia.

Lá estava sua pedra. Vazia.

Aproximei-me sem acreditar, chamando-o ainda e quando concebi que não tinha outro lugar onde procurar, desesperei-me com a sensação de dor e vazio em meu peito.

– Adriel!!!! Adriel!!!

Gritei em direção ao horizonte e ao universo, com toda minha voz e força até que ela acabou-se e minha voz tornou-se apenas um lamento triste. Os joelhos dobraram-se na areia próxima à pedra de Adriel e agarrei-me a ela, soluçando e dizendo baixinho seu nome.

– Adriel. Adriel. Meu amor. Onde você está?

…

Texto registrado no Literar.

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ETERA – Livro 2 da Trilogia do Anjo

by A Itinerante - Neiva 19/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva


Prólogo

(narrador)

Eileen estava em seus novos aposentos em Nigro, a terra dos Elfos Negros, preparando-se para a noite quando ouviu uma voz masculina, quente e sedutora.

– Olá, bela elfa.

Olhou para os lados em busca do dono da voz sem encontrar e achando que era sua imaginação, retornou aos seus preparativos.

– Bela e malvada! A combinação mais irresistível!

– Quem está falando? Onde está?

O espelho iluminou-se mostrando em seu centro um homem com o rosto oculto pelo chapéu. Fumava displicente, recostado em uma parede, parecendo totalmente à vontade.

– Quem é você?

– Um passarinho cantou que neste quarto mora uma elfa exilada de Etera com alguns segredos sobre anjos para compartilhar. Por isto estou aqui.

– Não compartilho sequer meu quarto quanto mais meus segredos com desconhecidos. Se não quer dizer quem é, fora daqui!

– Hum… E ainda é geniosa! Estou apaixonado.

Dizendo isto, saltou do espelho para o quarto e com uma reverência exagerada, ajoelhou-se aos pés de Eileen, beijando-lhe a mão e dizendo:

– Demônio Yzar, ao seu dispor, Mademoiselle.

– O inimigo de Adriel? O líder dos Demônios ….?

– O próprio, encantadora Eileen. E agora que já nos apresentamos, pode dizer se meu passarinho cantou corretamente?

– Sim. Eu freqüentava o palácio de Etera e tenho segredos que interessam a você. A questão é saber se você tem algo a oferecer em troca deles.

– Muito bem. Aprecio mulheres inteligentes e que vão direto ao assunto. O que deseja?

– O trono de Etera.

– Posso ajudar. Em um primeiro momento o importante para mim é destruir o anjo e o complexo, mas trânsito livre em Etera e a colaboração dos encantados será útil para meus planos futuros. Pode garantir isto?

– Sem problemas. Eu serei a rainha de Etera e eles, como súditos obedeceram ao que ordenar.

– Acordo fechado, gata. E com muito prazer. Vim apenas pela informação, mas prevejo que formaremos uma grande parceria. Você e eu juntos seremos imbatíveis. Que tal um beijo para selar nossa união? – Chegou o rosto mais perto para o beijo.

Eileen jogou-lhe um travesseiro para impedir a aproximação, mas ele virou fumaça antes de ser atingido.

Quando estava só, sorriu pela primeira vez desde que fugira de Etera. Yzar era charmoso, másculo e muito mais poderoso do que o patético Elros. Ela voltaria e mostraria a eles quem era a verdadeira rainha de Etera.

…

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

19/09/2009 0 comment
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