A Itinerante
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A dor de viver

Pablo Picasso – Guernica e a Pomba da Paz

by A Itinerante - Neiva 09/12/2008
Escrito por A Itinerante - Neiva

“Não, a pintura não está feita para decorar os cômodos.
É um instrumento de guerra ofensivo e defensivo contra o inimigo.”
Pablo Picasso, sobre Guernica.



A Paz – Gilberto Gil

Pablo Picasso foi um artista espanhol singular tanto pela assombrosa capacidade de produção (doou 2.000 telas para o Museu de Picasso e era apenas parte de sua vasta obra), como pela diversidade de técnicas que dominava além da pintura (escultura, litografia, cerâmica, gravura, colagens, etc.) e também pelos estilos adotados. Foi o fundador do cubismo e é considerada dele a primeira colagem em pintura.

Sua personalidade ainda intriga os críticos e estudiosos. Por um lado, um “bon vivant”, apreciador da vida e das mulheres, por outro simpatizante do Anarquismo e filiado ao Partido Comunista. Recusou-se a pegar em armas na Primeira Guerra Mundial, na Guerra Civil Espanhola e na Segunda Guerra Mundial. Alguns acham que por pacifismo, outros por covardia.

É dele Guernica, a pintura que se tornou a representação da desumanidade, brutalidade e desesperança da guerra, ao retratar o bombardeio sofrido pela cidade de Guernica, em 1 937 pelos alemães comandados por Franco.

Clique para abrir.

É de Picasso a frase que abre este post e é dele também a frase dita aos alemães quando lhe perguntaram – frente ao quadro de Guernica – se era o responsável por aquilo: “Não. São vocês. Eu apenas retratei.”. O que foi uma frase bastante corajosa para um covarde, diga-se de passagem.

Apenas por estas duas frases e por Guernica, Picasso já seria o escolhido para o encerramento desta série, como símbolo de artista que entendeu sua função política e social no mundo utilizando a arte não apenas como objeto de contemplação, mas também como instrumento de crítica, de contestação, de provocação e estímulo à mudanças.

Não bastasse isto, é ainda de Picasso o desenho da pomba que se tornou símbolo universal da paz.

A pomba é o símbolo deste blog e espero que também seja o símbolo que mais vejamos no futuro em todos os cantos do mundo, mas especialmente dentro de cada coração humano.

Paz!

09/12/2008 0 comment
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Imagine – John Lennon

by A Itinerante - Neiva 06/12/2008
Escrito por A Itinerante - Neiva

Imagine
(tradução)

Imagine que não existe paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
E acima apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também

Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Talvez você diga que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só

Imagine não existir posses
Surpreenderia-me se você conseguisse
Sem necessidades e fome
Uma irmandade humana

Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo

Talvez você diga que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só.

…

Alguns artistas olham, buscam e trabalham apenas pela beleza estética, pela perfeição da imagem ou da forma, outros como os que postei anteriormente nesta série ousaram converter seus sentimentos de angústia e impressões de dor em obras de arte, belíssimas e imortais, ainda que por vezes tristes ou desoladoras.

Alguns poucos e raros foram além e viram na dor de viver um impulso transformador positivo. John Lennon é um deles e “Imagine” não é uma obra de arte eternizada em um museu, mas imortalizada no imaginário de praticamente a unanimidade dos seres humanos, desejosos todos do dia em que seremos um só.

…

Para Shadow que me ajuda a continuar vendo magia no viver e que sabe como ninguém transformar dor em beleza e amor.

Banner dedicado à uma linda alma que adormeceu e a quem desejo um suave despertar.

06/12/2008 0 comment
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Os Homens Ocos – T. S. Elliot

by A Itinerante - Neiva 06/12/2008
Escrito por A Itinerante - Neiva


Boomed – Oscar Pilch

Os Homens Ocos (T. S. Eliot)

“A penny for the Old Guy”

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada.
Ai de nós! Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam – se o fazem – não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

– Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)

…

T. S. Eliot

06/12/2008 0 comment
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O Corvo – Edgar Allan Poe

by A Itinerante - Neiva 02/12/2008
Escrito por A Itinerante - Neiva


The Raven – ilustração de Gustave Doré

O CORVO
Edgar Allan Poe

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.»
«É só isso e nada mais.»

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais —
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo,
«É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isso e nada mais».

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
«Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isto só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
«Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.»
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
É o vento, e nada mais.

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais»
Todos — todos lá se foram. «Amanhã também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
«Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este «Nunca mais».

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele «Nunca mais».

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
«Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh’alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!

Tradução de Fernando Pessoa

…

No gênero “poema triste” O Corvo é considerado imbatível, talvez o mais belo e eterno. O personagem principal sofre pela morte da amada Lenore e é assombrado por um corvo que repete exaustivamente a palavra “Nunca mais” ao longo das estrofes.

O mais interessante (ao meu ver) é que o autor, Edgar Allan Poe, não estava triste quando o escreveu, menos ainda sofrendo pela morte de que quer que seja. Ao menos não mais triste do que seu estado normal de depressivo e alcoolatra.

Poe queria escrever um poema imortal, e toda a escrita, cada palavra, cada idéia foi cuidadosamente pensada e calculada para exercer este efeito melancólico, sobrenatural e romantico.

Para quem se interessar o próprio autor escreveu sobre a metodologia de criação deste poema. Leia a Filosofia da Composição de O Corvo, por Edgar Allan Poe, aqui no Ofício Literário.

02/12/2008 0 comment
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Van Gogh e Edvard Munch

by A Itinerante - Neiva 30/11/2008
Escrito por A Itinerante - Neiva


Campo de trigo com corvos – Vicent Van Gogh – 1890

Dizem que este foi o último quadro pintado por Van Gogh que teria se suicidado uma semana depois, com um tiro no peito disparado por uma arma que emprestara com o propósito de espantar os corvos.

Muitos críticos viram no céu tempestuoso, nos corvos revoltos como anjos negros e na agitação do trigo uma clara demonstração do estado de espírito tumultuado do pintor que entremeava momentos de lucidez com outros de delírio devido à sua doença mental.


O Grito – Edvard Munch – 1893

Pintada apenas 3 anos após a de Van Gogh, esta tela de Munch tornou-se tão famosa e iconoclástica quanto aquela.

Aqui um personagem andrógino, sem cabelos como se doente, torto e deformado está a gritar e a tapar os ouvidos como se assim pudesse interromper ou deter o que o incomoda. Todo o quadro expressa dor, angústia e desespero.

A exposição que o mostrou pela primeira vez foi considerada tão perturbadora que um crítico recomendou que grávidas não a visitassem.

…

Embora tenhamos por convenção considerar a arte uma expressão do belo, diversos artistas colocaram em suas obras algo da angústia e da dor de viver e o fizeram de forma tão magnifíca que se eternizaram como ícones da arte, ou seja, do belo.

Embora perturbadoras pelo conteúdo são talvez mais reais e verdadeiras do que aquelas que apenas retratam o belo e o perfeito, porquanto aproximam-se mais de nossa condição humana e mortal.

Nas próximas postagens trarei para vocês algumas destas obras, tanto da pintura, quanto da literatura, da poesia e da música. Espero que apreciem. 😀

30/11/2008 0 comment
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