A Itinerante
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Arquivos Anuais

2009

7) Uma voz no silêncio

by A Itinerante - Neiva 08/10/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva


A pequenina centelha brilhou solitária por algum tempo, mas logo, como se cansada do silêncio, iniciou a aumentar e diminuir seu brilho, em um pulsar fraco, porém contínuo.

Um pouco à frente, ao lado, acima e abaixo pequeninas centelhas surgiram e após breve tremular, fixaram brilhantes no firmamento.

Após algum tempo, iniciaram também um pulsar que acenderam outras tantas mais e assim sucessivamente espalhando-se pontos de luz por recantos longínquos do universo.

Quando havia já centenas, talvez milhares, destas minúsculas centelhas de luz a brilhar na escuridão, a primeira emitiu um novo pulso, desta vez, longo e contínuo.

A este comando, as demais luzes iniciaram a deslizar lentamente pelo éter aproximando-se do ponto de origem, agrupando-se pelo caminho e chegando como forte jorro de luz até a pequenina fonte.

A um novo comando envolveram-na e fundidas pela luz tornaram-se um só brilho, que desta vez pulsou forte e ondulado, como se expressando uma idéia, uma palavra, um nome: M A I S E.

…

Imagem daqui.

08/10/2009 0 comment
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6) O lento retorno à vida

by A Itinerante - Neiva 06/10/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva

Naquela tarde falando ao povo encantado iniciei um lento retorno à vida, mas durante todo o primeiro ano em Etera ainda chorei todas as noites, sentindo a lâmina fria remexer-se em meu coração.

Durante o dia cumpria com minhas obrigações como Rainha de Etera esforçando-me para não pensar em Adriel, nas saudades que sentia ou na dor que me partia inteira. Agia como deveria para que os seres elementais não percebessem o quanto minha tristeza era intensa. Um simulacro de sorriso estava sempre em meus lábios, a modulação da voz era gentil e agradável e o semblante calmo.

À noite após o término de minhas obrigações, dispensava todos e ia sozinha para a cozinha, onde Tana deixava vários pratos à minha espera. Sentava-me à mesa e começava a comer. Às vezes conseguia comer toda a refeição e só chorar depois, mas quase sempre o choro pegava-me ao meio.

Tudo o que era belo ou bom trazia-me de volta a Adriel e conseqüentemente à sua ausência. Quando alimentava-me com a comida gostosa de Tana, sentia prazer e com ele vinha a dor. Como poderia sentir prazer se Adriel não estava comigo?

Então as lágrimas vinham e o garfo ficava congelado por alguns segundos, a meio caminho da boca, até cair de volta ao prato.

Não. Eu não estava me punindo. Só não era bom sentir prazer sem ele. Era como se tivesse traindo-o com um esquecimento rápido e inaceitável. Tinha um pavor louco de esquecê-lo, de que sumisse de minha lembrança, de que um dia buscasse e não localizasse mais sua linda face sorrindo em minhas memórias. Por mais que doesse lembrar, seria insuportável esquecer.

Passava e repassava momentos que tivemos e a dor de sua ausência, a necessidade de sentir sua presença pegava-me inteira. Empurrava o prato e debruçada sob a mesa era vencida pela tristeza e saudades.

Após algum tempo, Elros vinha, pegava-me no colo e levava-me para o quarto, depositando-me à cama. Eu tinha desistido de fazer este trajeto só. Não conseguia levantar-me da cadeira e em alguns dias fiquei ali por muitas horas até permitir que me levasse. Prometia-me que no dia seguinte não choraria, que comeria e depois iria sozinha para o quarto, onde leria ou pintaria e, derrotada, todos os dias tinha que refazer a promessa.

A pintura agora era apenas um projeto, uma intenção vazia, uma lembrança remota. Queria pintar Adriel, tinha já o esboço em minha mente, mas não consegui pegar nos pincéis uma única vez, porque a pintura também era prazerosa e remetia a ele.

Elros nunca dizia nada. Apenas levava-me até a cama e lá Tana aguardava e permanecia comigo até que o sono vencesse as lágrimas, embora ainda soluçasse durante a noite. De manhã ela passava um pó em meu rosto desaparecendo com todos os vestígios das lágrimas e o ciclo recomeçava.

Isto foi praticamente um ritual naquele primeiro ano, repetindo-se todas as noites, com pouca ou nenhuma modificação, mas ainda que não achasse ser possível, a vida retornava lentamente aos meus ossos e o passo inicial fora dado naquela tarde, quando sai à varanda do castelo e encarei o povo castigado que me olhava com ansiedade e não sei como as palavras foram saindo de minha boca:

– Povo Encantado, nós atravessamos um longo inverno e fomos duramente atingidos. Enquanto o frio tocava nossas almas, choramos nossos mortos e desaguamos nossas tristezas. Agora o hálito quente da primavera já se anuncia e logo será tempo de flores, calor e alegria. Não podemos continuar inertes, lastimando o passado. É tempo de recomeçar e renascer.

– Daqui a uma semana faremos uma grande festa para comemorar a chegada da nova estação. Neste dia também serei coroada Rainha de Etera.

– Necessito da ajuda de todos para que Etera esteja preparada e enfeitada para a festa. Vamos pintar as casas, limpar as ruas, podar as árvores, varrer as folhas e o lixo acumulado, arrumar os telhados e consertar o que estiver quebrado. A primavera não entrará em Etera se não espantarmos os últimos resquícios do inverno. Posso contar com vocês?

Eu mal acreditava que tinha proferido estas frases, menos ainda de que convenceria alguém quando eu própria enregelava de medo frente à tarefa que propunha, mas os pequeninos entoaram meu nome a uma só voz em um poderoso coro, levando-me às lágrimas.

Afastei-me do balcão ainda sob aplausos, o coro ressoando e prometi-me fazer tudo que pudesse para não decepcioná-los, mesmo que para isto tivesse que voltar a viver.

…

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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5) As fadas do Monte Orm

by A Itinerante - Neiva 03/10/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva


No Monte Orm, um grupo de fadas reunidas em círculo ouvia atentamente o que uma pequenina fada azul falava.

– Você tem certeza de que Maise disse isto e convocou o povo? – Perguntou uma delas, Me, agitada.

– Tenho, lógico. Quando desceram na borda do lago estava sentada em um galho de árvore. Fiquei quieta. Era a primeira vez que ela saia de casa e não quis fazer nada para atrapalhar. Acabei ouvindo quando Elros explicou que Etera está assim por causa de sua tristeza. – Respondeu Bruxinha, que recebeu este nome por suas trapalhadas com os encantamentos. As fadas do Monte implicavam de brincadeira que não era fada e só podia ser bruxa e riam, mas na verdade adoravam-na e ao seu jeito doidinho e amoroso, sempre querendo ajudar e metendo-se em confusão atrás de confusão.

As fadas do Monte Orm são da antigas e sábia linhagem. Vivem em uma vila atrás do Castelo de Etera e dedicam-se aos encantamentos mais difíceis e trabalhosos, quase sempre aqueles que envolvem a transformação da matéria, cujos segredos guardam a sete chaves e passam de geração em geração a alguns poucos escolhidos.

Elas também são vistas como conselheiras pelo povo encantado e bastante procuradas por fadinhas jovens, em busca de conselhos e orientações para aspectos da vida sentimental.

Bruxinha não é uma delas e nem vive no Monte Orm, mas gosta de levar as novidades e os últimos acontecimentos para suas amigas.

– E como Maise estava? Pareceu triste? – Zê quis saber.

– Estava chorando, coitada. Magra que dava dó de ver. – Respondeu Bruxinha.

– Também! Viver um amor bonito como aquele e depois isto… – Ce não concluiu a frase, incapaz de mencionar com todas as letras.

– É mesmo, pobrezinha. – Arrematou Ilda, prosseguindo. – Eu também sofreria se tivesse perdido um anjo daquele. Algum dia terei um Adriel só meu. – Arrematou, fazendo todas rirem, exceto Lina, que ouvia apenas.

– E vai matá-lo como Maise? Sabem que é culpa dela. Se aquele doce anjo do Senhor não tivesse se envolvido com ela ainda estaria entre nós. – Falou brava.

– Lina! – Exclamaram todas juntas.

– Não foi culpa dela. Eles apaixonaram-se um pelo outro. E era um amor tão bonito. Foi triste e é uma pena. – Me ponderou.

– Sorte que ela tem Elros e aquele Elfo parece caidinho por ela. – Chica disse com uma risadinha. Ela também namorava um elfo muito bonito.

– Não creio que Maise esquecerá Adriel com Elros, mesmo ele sendo bonitão e simpático como é – Discordou Zê.

– Eu também não. E ela não tem culpa. Foi o destino, mas ainda acredito que ele não morreu – Soltou Bruxinha, baixinho, fazendo com que as outras olhassem para ela.

– Você acha? – Ilda apertou o coração com a mão, segurando a ansiedade.

– É claro que Anjos não morrem! – Afirmou Miguel, o elfo que sempre acompanhava Bruxinha e que até então apenas ouvia.

– Eu também não acredito. Anjos morrendo, imagina! – Concordou Ce, seguida em coro por todas as outras e mesmo as que não tinham dito nada balançaram a cabeça em concordância.

Logo estavam em silêncio, imaginando cada um a seu modo, como Adriel retornaria.

….

Ilda, tem 54 anos, é de Goiana/PE. Era empregada doméstica, mas devido a problemas de saúde, não conseguiu mais emprego. Um dos seus filhos foi morto pelo tráfico, mora com mais 7 pessoas, incluindo uma criança de 4 anos. Apesar de não saber ler, adora estórias de anjos, fadas e “seres bondosos”, pois ajuda a melhorar o seu dia-a-dia, fazendo com que acredite que as coisas vão melhorar.

Ce, tem 45 anos, é de Recife, chegou a menos de um ano. Veio com a promessa de um emprego, mas quando chegou aqui a pessoa disse que ela não era como achava que era e não a contratou. Está morando com um dos filhos de Ilda e tem 5 filhos, que ficaram em Recife com uma irmã. Também não sabe ler, mas falou que desde que começaram as estórias, ela até deixou de tentar se matar (fez duas tentativas mal sucedidas no começo do ano).

Me, tem 60 anos, é de Sumaré/SP, trabalha para ajudar no sustento da família da filha, que tem 9 filhos e não pode trabalhar, pois tem que cuidar deles. A filha não é casada, sendo ela a única responsável pelo alimento dos netos. Os pais dos filhos não dão a pensão, pois estão contestando a paternidade na justiça. Ela também não lê, mas gosta do dia que tem as estórias, pois fazem sair um pouco da realidade e voltar a ser a criança que tinha a ilusão de conquistar o mundo.

Chica, tem 53 anos, é de Santa Barbara/SP, trabalha ali a mais de dois anos, apesar de fazer alguns outros bicos. Tem 4 filhos, é viúva, adora ler estórias românticas e de mistérios, detesta estórias de terror, está namorando com um dos homens mais cobiçados do pedaço e não deixa ninguém chegar perto. Ela acha que é mais esperta do que a Marisa (Maise).

Lina, tem 56 anos, é viúva, teve 5 filhos, mas morreram de fome, não gosta de trabalhar ali, pois as mulheres são muito “dadas”, não fuma, não bebe, pois sua religião não permite, gosta de ler estórias que tenham anjos, pois acredita que são enviadas pelos mesmos para nos mostrar como estamos agindo, e que os elfos, duendes, fadas e bruxas, são todos do mal, como a Maise, que matou o Adriel. Aprendeu a ler, pois queria ler a Bíblia e na Bíblia tem estória com anjos.

Zê, tem 41 anos, é casada, tem 2 filhas, uma tem síndrome de down e a outra sérios problemas no coração. Ela trabalha para ajudar a aumentar a renda do marido que é gari e tem problemas com bebida. Ela já foi presa por ter o nome de uma mulher procurada pela policia por estelionato, ficando dois anos na prisão, até que a advogada da Paróquia que ela freqüenta conseguiu libertá-la. Adorou as estórias, lê para as filhas e é uma das mais queridas do local.

Estas mulheres e outras que não foram nomeadas aqui têm em comum o fato de trabalharem na reciclagem de detritos em um lixão clandestino. Deus não dá carga pesada a pessoas fracas e sim às fortes, mas compadecido talvez, enviou-lhes um de seus anjos encarnados para suavisar algo da aspereza de suas vidas.

Bruxinha (Ceci) é Geofísica e realiza um trabalho voluntário ensinando estas mulheres. Encontrou pelo Google a estória de Adriel e de Axel e passou a imprimir e ler para elas, levando-lhes também um pouco de fantasia, amor, fé e esperança.

…

Ilda, Ce, Me, Chica, Lina, Ze e todas não mencionadas aqui:

Este post é uma pequena homenagem para vocês, que agora estão dentro da estória e fazem parte de Etera, aparecendo sempre que for necessária uma ajudinha extra. :DD

Fiquei emocionada ao saber que acompanham e vibram desta forma com nossas estórias e agradeço muito. É o melhor incentivo para continuar e procurarei fazer o melhor para não decepcioná-las. Espero que enviem sempre recadinhos pela Ceci dizendo o que estão achando. Recebam meu abraço com carinho.

…

Bruxinha (Ceci):

Você é um anjo renascido na Terra e que veio para trazer conforto, alento e esperança para estas pessoas tão especiais para Deus. Você e Miguel, seu amigo padre que participa também deste trabalho. Agradeço a ambos não apenas por imprimir, distribuir e ler-lhes nossas estórias, como também por vir e contar-nos. Muito obrigada!

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Banda – Chico Buarque

by A Itinerante - Neiva 02/10/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva

Fui ver a banda passar. Volto amanhã. rsrs

Beijos para todos! :DD

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4) Enquanto isto…

by A Itinerante - Neiva 29/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva


No silêncio do universo onde um segundo antes nada havia,
uma pequenina centelha inicia a brilhar, solitária.

Imagem recortada a partir de imagem daqui.

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3) A vida sem Adriel

by A Itinerante - Neiva 27/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva



Um mês havia passado desde que fecháramos o Portal e que vivi dentro do palácio, praticamente apenas no quarto, deitada, chorando ou dormindo. Nos primeiros dias à base de calmantes naturais feitos pelas fadas que me deixavam praticamente inconsciente quando acordada. Após uma semana Tana diminuiu as doses e comecei a passar longas e intermináveis horas sem seu efeito, exposta à dor insuportável.

Elros queria que assumisse o trono de Etera, mas não quis. Pedi que continuasse sendo o regente até que estivesse melhor. Ele concordou, mas não deixava de consultar-me a toda hora quanto a decisões sobre o governo. Eu não queria saber de nada, mal estava ouvindo o que dizia, mas ele não desistia. Adriel se fora e não havia mais sentido algum na vida. Tanto fazia uma coisa como a outra. Será que ele não entendia???

O pior de tudo é que eu era culpada. Se tivesse ficado no barco, como Adriel pedira, não teria se jogado na frente da flecha para salvar-me, ou, antes ainda, se tivesse concordado em fechar o Portal quando Elros sugeriu, antes de nossa viagem. Se não tivesse brigado com Tana, Eileen não teria conseguido me envenenar e ele não teria interrompido o tratamento em Celes. Por todos os lados que olhasse, eu era a culpada. Eu matei Adriel, o meu anjo.

As pessoas sabiam disto. Como podiam continuar tratando-me com carinho. Como Elros poderia querer que assumisse o trono de Etera? Não era digna sequer de continuar vivendo, quanto mais de reinar sobre os elementais. Deveria morrer. Queria morrer. Queria tanto! Era meu maior desejo. Seria o justo, o correto.

Deus estava certo, entretanto, em negar-me esta benção. Tinha que viver sem Adriel, sentindo toda a aspereza da vida enquanto vivesse. Era meu castigo por tê-lo matado e estava correto. Entendi porque Tana não queria dar-me mais remédios: não merecia a névoa branca da inconsciência que provocavam. Eu tinha que ser punida.

Mas não era culpada sozinha e sabia disto. Eileen. Quando este nome surgia em minha mente, meus dentes rangiam com a raiva e o ódio. Eu a mataria com minhas próprias mãos se pudesse, se ficasse frente a frente com ela. Perguntei a Tana se não existia algum encantamento que pudéssemos fazer à distância, contra ela, mas respondeu que a mágica dos elementais não eram para o mal.

Passava então horas imaginando formas de assassinato. De Eileen e daquele demônio, Yzar. Em minha mente via-me ressurgindo poderosa, com um exército de elementais treinados e letais, invadindo seus esconderijos e matando-os de formas diferentes a cada vez. Por fim conclui que morrer seria bom para eles. Não. Eles tinham que ser capturados apenas. Levaríamos para uma prisão que construiria em Etera e passaria o restante de minha vida torturando-os, bem lentamente. Cortaria Eileen todos os dias e deixaria sangrando. Quando cicatrizasse, faria outro corte. Não… Melhor ainda. Após o corte, passaria sal e pimenta e deixaria arder, para que sentisse só um pouquinho de minha dor. Arrancaria fora seus olhos, para que não pudesse ver nada, como eu também já não via, cega pela tristeza.

Não recordo quando comecei a conceber que não éramos os únicos culpados. Em última instância era Deus o responsável. Sim. Deus. Ele permitira que isto ocorresse. Não diziam que não havia um grão de areia que se movesse na Terra sem sua autorização? Como Ele pôde fazer isto conosco, comigo? Porque deu Adriel e toda a felicidade de nosso amor para em seguida retirá-la desta forma irreversível? Ele estava brincando com minha vida? Era apenas um joguete em suas mãos? Uma distração para seu tédio? Passei a odiar Deus tanto quanto Eileen, Yzar, mas nada comentei com Tana. Sabia que não adiantaria. Que O defenderia, dizendo que escreve certo por linhas tortas.

Eu era impotente frente a Deus. Tive que reconhecer que nada poderia fazer contra Ele, que Dele não poderia vingar-me. Imaginava como estava divertindo-se com minha dor, com minhas lágrimas e minhas mãos fechavam-se até que as unhas penetrassem na carne, de tanto ódio que sentia.

Será que Adriel nunca vira como Ele era injusto? Como zombava e gracejava brincando com nossas almas como se fôssemos bonecos de corda? Por que Adriel não viu? Por que me abandonou?

Quando começava a culpar também meu Adriel, meu lindo e inocente anjo, pela ausência em minha vida, pela dor que sentia, recuperava um pouco de lucidez. Pedia-lhe perdão, envergonhada e arrependida e estremecia de temor de que Deus levasse a sério minhas ofensas e desculpava-me também com Ele. Implorava para que entendesse que só pensava aquelas coisas por estar meio enlouquecida de dor.

Então vinha a esperança de Ele entendesse o quanto estava sofrendo e que o trouxesse de volta para mim. Prometia-Lhe que seria boazinha, que voltaria minha vida para o bem, para ajudar os elementais e transformar Etera em um reino de amor, dedicado a ele e adormecia rezando todas as orações que conhecia.

Mas no outro dia, quando acordava, Adriel não voltara e todo o ciclo de pensamentos recomeçava. A atividade mental era tão intensa e barulhenta dentro de minha cabeça que não suportava os ruídos exteriores. Uma simples palavra que diziam e para qual tinha que voltar a atenção, interromper mesmo que por um segundo a torrente de pensamentos que jorravam em meu cérebro, provocava imensa dor. Os ruídos externos pareciam estrondos quando penetravam em meu caos. Por isto isolava-me no quarto e ainda não sendo suficiente passei a usar tampões de ouvido, presos por um lenço em torno de minha cabeça.

Eles traziam-me a comida, mas como poderia comer quando era culpada pela morte de Adriel? Uma bola se formava em minha garganta e impedia a passagem de qualquer alimento. Tana descobriu que conseguia ingerir alimentos líquidos e passei a alimentar-me das vitaminas que ela preparava. Ainda assim, naquele mês emagreci muito, ficando esquelética, com os ossos surgindo por entre a pele, braços e pernas tão finos que quase se podia enxergar por entre eles.

Também não conseguia ver o sol, pessoas sorrindo ou apenas alegres, música e nada que fosse belo. Tudo que era bom e bonito fazia recordar-me ainda mais intensamente dele. Machucava insuportavelmente.

Não havia fuga possível para a dor, porque a ausência do belo também fazia doer pelo contraste com as lembranças que não podia deter. As recordações surgiam atreladas a palavras inofensivas, sem que conseguisse controlar. Tudo trazia Adriel e nossa felicidade perdida de volta.

Para tentar isolar-me passei a imaginar-me dentro de um ovo. Visualizava-me suspensa no ar, em posição fetal e dentro de uma bolha transparente. Recobria esta bolha com camadas e mais camadas isolantes e ao final acrescentava um vácuo. Tudo que viesse até mim, esbarraria neste vácuo e retornaria. Se fosse forte e conseguisse prosseguir além do caos, daria com a camada isolante e também retornaria. Dava um pouco de resultado, mas exigia concentração. Bastava uma distração e tinha que refazer todo o processo.

Sentia-me esgotada e muito próxima à loucura que desejava. Perder a razão seria doce e bom. Implorava a Deus que permitisse ao menos este consolo. Imaginava-me demente, vagando por Etera, na suave inconsciência, eternamente feliz com Adriel.

Perdida nestes processos mentais, não percebia a passagem das horas e nem mesmo dos dias. Não tinha noção de quantos haviam corrido desde que estávamos ali. Poderia ser uma semana, um mês ou um ano.

Uma manhã Elros entrou no quarto, como sempre fazia, para consultar-me sobre Etera. Não queria ouvir. Disse-lhe que fizesse como achasse melhor. Que não me importava.

– Não se importa? É seu reino, seu povo. Eles precisam de você, Maise!

– Não posso, Elros. Vá embora. Deixe-me.

– Você se acha o centro do universo, não é? E está certa. Você é o centro deste universo e vou lhe mostrar.

Pegou-me a despeito de meus protestos e voou comigo para fora do palácio. Esperneei, gritei, esmurrei-o sem que parasse. Como todos os elementais sua força era superior à minha. Sobrevoou comigo jogada em seus ombros por toda a Etera até que eu começasse a vê-la e imobilizei-me aturdida.

O que acontecera ali? Onde estavam as flores exuberantes, o verde luxurioso, as árvores frondosas, a relva macia, o brilho transparente do lago, os sons e a música que sempre houve neste lugar? Porque todas as casas estavam à beira da ruína, com a pintura descascada, telhados caindo? De onde viera todo o lixo que se espalhava pelas ruas, nos portais das residências e em torno do lago?

– Elros, pare. Desça-me. – Ele obedeceu e pousamos na borda do lado, em frente ao palácio.

– O que houve aqui? Fomos invadidos, atacados? Não disse nada sobre isto. Foram os demônios ou os Elfos Negros? – Indaguei, perplexa.

– Foi você, Maise. O reino dos elementais é apenas um reflexo de seus moradores. Os elementais são seres extremamente sensíveis e reagem aos sentimentos de sua rainha. Todos vivem sua dor e são tão tristes como você. Como poderiam dar vida à beleza, se sua rainha está sofrendo?

Afastei a cortina de águas que nublavam meus olhos e por longos minutos observei a devastação ao nosso redor, entendendo o alcance do que ele tinha dito.

– Por favor, Elros, leve-me de volta e convoque todos para um comunicado da Rainha de Etera.

Texto registrado no Literar.

Imagem: desenvolvida por mim à partir da imagem da mulher (fonte desconhecida).

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Um pouco da Magia da Noite

by A Itinerante - Neiva 24/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva


FUMO

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas…
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos…

(Florbela Espanca)

Existem encontros mágicos em nossas vidas, quando sem querer esbarramos em algo especial. Pode ser uma música, um lugar, uma pessoa, um escritor, mas certamente todos nós temos estes momentos especiais, gravados para sempre.

Recordo-me ainda daquela tarde preguiçosa quando, ouvindo ópera no cd-player (naquela época ainda não existiam os mp3 da vida), entrei em uma livraria e fui à sessão de poesia disposta a encontrar uma mulher que falasse melhor ao meu espírito do que Fernando Pessoa e outros que conhecia. Fiquei bem umas duas horas ali, folheando, lendo trechos e descartando uma após a outra. Ao final, quase desistindo, abri um fino livrinho de uma poetisa com nome esquisito: Florbela Espanca.

Lembro-me do cheiro, da luz, do sentimento, da música, do prazer de ler-me na escrita dela, de todas as nuances daquele encontro. Um instante eterno, de puro encantamento.

Florbela foi minha voz em muitos momentos, quando minhas próprias palavras eram poucas e pobres para expressar o que desejava.

Nesta terça, fui agradecer uma nova visita como habitualmente faço. Estava apressada. Tinha uma série de planilhas matemáticas a fazer. Seria apenas dar uma olhadinha, comentar e ir embora. O que encontrei pegou-me por horas, estarrecida, lendo e relendo, inconformada, quase sem acreditar que fosse possível.

Se Adriel tivesse um blog e dos céus escrevesse para sua Maise, não seria mais perfeito. Ah, você duvida? Leia então:

Chamamento

Chamas o meu nome na escuridão do teu pranto. As lágrimas resvalam pela tua pele como cascatas em rio revolto. O mundo parece ter-te levado de volta aos tempos turbulentos de outras vidas, como se quisesse afogar a tua alma num oceano agitado pelas tormentas do passado. Na distância que nos separa escuto o teu lamento. Desdobro minhas asas e lanço-me numa descida alucinante, procuro o caminho até ti, percebendo os sinais que me deixas para te encontrar.

Faço-me homem, caminho em tua direcção, espero-te num despertar de sentidos, na beira da tua cama. Teu corpo agita-se ao pressentir a minha presença. Despertas num olhar suave, de olhos inchados pela tristeza da tua alma, mas logo encontras meus olhos negros, segurando tua alma. Meu dedo toca tua face, digo-te “-Bom dia minha querida!”, sorris-me. Lá fora um novo dia nasceu.

Na palma da minha mão faço aparecer uma bola de luz que deixo fluir para teu peito, iluminando tua pele, e num suave beijo em tua testa, descrevo-te, neste silêncio, neste momento, as forças que fazem de ti um ser magnifico. Num outro beijo soprado, deixo no ar o perfume que tão bem conheces, como resquícios de minha essência que por todo o sempre será também a tua. Caminho a teu lado, homem comum e mortal, enlaço meus dedos em teus dedos, como reflexo desta humanidade de que somos feitos, mas, depois, num sopro de vento, me desvaneço no céu deste final de dia. Anoiteceu!


…

O que acham? É ou não é? 😀

Druida, do blog A Magia da Noite, escreve a todas as mulheres falando diretamente à alma, como se conhecesse um atalho secreto para nossos corações. Mágica pura.

Sinto orgulho em recebê-lo como amigo neste blog e apresentá-lo a vocês, esperando que o visitem, leiam seus textos mágicos e que sejam como eu confortadas com suas tão belas palavras.

Só não se esqueçam de Adriel completamente, ok? rsrs

Beijos!


Druida, sinta-se acolhido pela Itinerante e que este seja apenas o início de uma grande amizade. 😀

24/09/2009 0 comment
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2) O fechamento do Portal de Etera

by A Itinerante - Neiva 22/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva




Não vi. Contaram-me depois que vovó e mamãe cercaram-me na pedra e envolveram-me em energias calmantes até que adormecesse e só partiram após um longo e cúmplice olhar com Tana. Ela providenciou para que Elros carregasse-me até a cabana e ficou velando-me o tempo todo em que dormi, e Niis também não saiu nem por um segundo dos pés da cama, dormindo ali no chão mesmo.

Mais de 12 horas depois, quando acordei, tive uma certeza apenas: Adriel não morrera, apenas abandonara o corpo físico. Ele estava recuperando-se em algum lugar, provavelmente em Celes e voltaria assim que pudesse. Imbuída com esta certeza, não chorei mais e comecei a tomar as providências que se faziam necessárias, enquanto aguardava seu retorno.

A primeira e mais importante foi pedir a Eliah para ir a Celes e trazer-me notícias. Ele foi prometendo voltar tão rápido quanto pudesse. O corpo de Adriel foi colocado em um caixão fechado, mas não enterrado, pois não sabia se precisaria dele ao retornar e decidi deixar para ele decidisse o que fazer.

O complexo estava semi-destruído e nossa casa uma completa bagunça, com todos os móveis e objetos revirados ou quebrados. A equipe de Adriel aguardava instruções e já ia colocar todos para organizar e limpar tudo quando Elros e Tana chamaram-me para uma conversa.

– Maise, não pode continuar aqui. É muito arriscado. Está desprotegida. Yzar e Eileen foram derrotados por você, mas retornarão. Temos que voltar a Etera e fechar o Portal. – Elros disse.

– Não podemos ir antes que Adriel retorne. Ele já deve estar voltando. – Argumentei. Eles olharam-se.

– Mesmo que volte, não é viável que permaneçam aqui. É um risco para todos. Adriel concordaria comigo. – Insistiu ele.

– Talvez possamos ir realizando alguns preparativos para a mudança enquanto esperamos então. O que ele faria com a equipe do Complexo? São todos humanos. Não iriam para Etera.

– Dê férias a todos. Diga-lhes para irem para suas casas de origem. Providencie pagamentos futuros e peça para que aguardem até serem convocados de volta. O que acha?

– Sim. Pode ser. E quanto às casas e estruturas?

– As fadas podem fazer um encantamento de ocultação e eles ficarão protegidos enquanto você estiver em Etera, menina. – Era Tana agora, anormalmente séria.

– Está bem. Vamos organizar e deixar tudo pronto até o retorno de Adriel. Ele deve voltar com Eliah. – Mais uma vez percebi aquele olhar entre Tana e Elros, mas no momento não queria saber seu significado. A ausência de Adriel, mesmo que temporária doía e deixava-me em um estado confuso e um tanto quanto irreal, como se nada fosse realmente verdade e estivesse em um sonho.

Telefonei a François avisando que Adriel e eu faríamos uma longa viagem, sem data para retorno e pedindo para que cuidasse dos quadros de papai. Também avisei aos advogados e instrui-os para investimentos em fundos seguros. Antônio mais uma vez concordou em cuidar da cabana em nossa ausência e ficou com as chaves, após uma despedida emocionada e carinhosa.

Uma semana se passou desta forma nebulosa em que ocupei todas as horas do dia com os preparativos para a mudança e à noite adormecia exausta em meio à tristeza e saudades.

Não tocávamos no nome de Adriel e todos falavam baixinho, andavam silenciosamente e olhavam-me com o canto dos olhos. Eu sabia o que pensavam, mas estavam errados e quando Adriel voltasse veriam que eu tinha razão: ele estava vivo, recuperando-se em Celes.

Eliah voltou ao final de uma semana daqueles eventos. Deve ter chegado muito cedo, pois quando acordei já estava na sala, onde todos também estavam reunidos. Tana, Elros, Niis, Gnom e muitos outros.

– Eliah! Quando chegou? Devia ter me acordado. Como está Adriel? Ele veio com você? – Olhei por toda a sala em sua procura.

– Maise, Adriel não está em Celes e nem em parte alguma. Demorei para voltar porque ficamos tentando rastrear sua essência pelo universo. Se ele estivesse em qualquer lugar teríamos encontrado. Sinto muito ter que dar-lhe esta notícia.

– Como assim? Ele tem que estar em algum lugar.

– Lembra-se do que ele contou sobre a mutação genética e do que aconteceria com seu espírito se algo danificasse seu corpo? É importante que lembre, Maise.

Busquei a lembrança de nossa conversa sobre o assunto, mesmo sentindo a mente confusa. O que mesmo ele dissera? A lembrança veio de repente, velozmente:

“Não vou te enganar, Maise. É muito ruim sim. Porque você, quando morrer aqui, continuará vivendo no mundo fluídico com seu corpo leve e eu não. Nós dois temos apenas esta vida juntos e não mais a eternidade. Quando eu morrer, meu espírito vai se espalhar pelo universo, sem ter um corpo para contê-lo como os humanos.“

– Espalhar pelo universo… Sem um corpo para conter… – Repeti lentamente as palavras enquanto o significado de suas palavras espalhava-se pela minha mente e senti-me despencar em um precipício branco e cujo fim parecia não existir.

Quando voltei à consciência estava deitada no sofá e Tana passava um vidro próximo a minhas narinas. Abri os olhos e soube. A dor que senti foi tão forte e intensa que deixou-me completamente sem ar e Tana teve que socorrer-me com seus sais novamente.

Eu não conseguia falar. A onda de dor espalhou-se de tal forma que tinha receio de que uma palavra fosse suficiente para que transbordasse e afogasse-me, perdendo-me ainda mais nela. Eu sabia que oscilava perigosamente entre a fina linha divisória da sanidade e da loucura e usei o fiapo de controle que restava para ficar quieta.

Se eu não fizesse nada, se não me movesse e, principalmente, não falasse, talvez houvesse uma chance pequena de sobreviver. Não era difícil não me mover. A dor era tão avassaladora e preenchia tanto todos e qualquer recanto de meu corpo que seria impossível qualquer gesto. Difícil era respirar. Cada sopro de ar que entrava em meus pulmões intensificava a dor, que era era fina e aguda e não sei por que pensei em uma faca perfurando meu coração e a partir daí comecei a pensar nisto não como dor e sim como “a faca”.

Algumas pessoas sobrevivem semanas, meses e até anos com facas e objetos cortantes em órgãos internos. Estando bem encaixada era possível, desde que não fosse retirada ou não se movesse. Se fosse retirada abruptamente, o sangue jorraria incontrolável, provocando quase que certamente a morte. Se fosse movida, poderia cortar alguma veia ou vaso importante e resultar no mesmo efeito.

Então, eu tinha uma faca em meu coração e minha sobrevivência dependeria de que ela permanecesse ali, imóvel. Por este motivo não queria me mover, falar e nem mesmo pensar.

Agradeci a Tana pelo remédio que deu e que deixou-me flutuando em um mundo de brumas, onde os pensamentos não existiam e a dor tornava-se algo suportável.

Eles quiseram enterrar Adriel, mas discordei com gestos. Não deixaria meu Adriel ser comido por vermes. Após várias hipóteses recusadas, concordei com um funeral viking. Era o que melhor combinava com ele e o que restava dele iria aos céus em seu encontro.

Eu não queria ir à cerimônia, mas obrigaram-me a estar presente. Disseram que era necessário, que eu tinha que ver para aceitar, conceber interiormente. Enfim… Que custava-me ainda isto? Que diferença faria se queimassem meu Adriel, quando meu coração já era apenas cinzas, apenas resquício do viço passado, quando fomos felizes, ele e eu?

Tivesse certeza da aniquilação de meu espírito e queimaria-me junto ao meu amado, para subir com suas cinzas e juntar-me às suas centelhas espalhadas pelo universo, mas nem mesmo este pobre consolo tinha, pois meu espírito sobreviveria à morte de meu corpo.

Estava condenada à dor e tudo o que podia fazer era rezar baixinho implorando a Deus para que parasse de doer ou que ao menos fosse suportável o suficiente para que continuasse a respirar.

Mas quando, nesta noite mesmo, os gnomos arqueiros atiraram suas flechas do alto do paredão rochoso da laguna em direção ao barco lançado ao mar e meu doce, terno e meigo Adriel começou a queimar, não consegui mais respirar e deslizei rumo ao breu mais uma vez.

Quando acordei, já na manhã seguinte, nada mais restava a fazer do que partir para Etera. Não quis levar nada mais do que o anel e o Tsuru presenteados por Adriel. Todo o restante permaneceu lacrado por magia.

Liah despediu-se de nós no Portal. Com o Portal lacrado e o complexo fechado, não via motivos em continuar como responsável por aquele protetorado. Deixaria, aliás, de ser anjo e viveria a experiência humana ao lado de uma das antigas assistentes de Adriel, Michelle, e parecia feliz ao seu lado. Despedimo-nos com um abraço triste.

Entrei no Portal de Etera amparada por Tana e Niis e assim que cheguei do outro lado utilizei meu medalhão para lacrar o Portal.

A partir daquele momento nenhum Elemental sairia de Etera e nenhum humano entraria. O portal entre humanos e encantados estava lacrado pra sempre.

…

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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TRILOGIA DO ANJO – ETERA – 1) Retorno a Portal do Sol

by A Itinerante - Neiva 19/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva

Chegamos a pouco a São Luis. Fazia já três semanas que havíamos nos casado e que estávamos navegando pela costa do nordeste brasileiro. Mais uma semana apenas e voltaríamos para casa.

Casa… Sorri ao sentir a sensação quente e reconfortante ao pensar em Portal do Sol e em nossas duas casas, a maior de Adriel onde viveríamos e a cabana que seria sempre nosso refúgio.

Olhei para ele recém saído do chuveiro e admirei-me ainda uma vez por sua beleza, sem conseguir ainda acreditar que aquele monumento de homem fosse meu marido e que fôssemos tão felizes.

Estávamos preparando-nos para desembarcar quando seu celular tocou. Paramos um segundo olhando-o intrigados. Não tocara nestas semanas. Nós é que tivemos que ligar para casa depois de algum tempo, em busca de notícias.

Adriel atendeu, ficou ouvindo sem quase falar e desligou dizendo que estávamos indo.

– Era Elros. O complexo e o Portal estão sendo atacado por demônios e elfos negros.
Parece que a situação é séria. Temos que ir agora. – Ele falou apressado ao mesmo tempo em que colocava o restante das roupas.

– Como iremos, amor? De avião? De barco demoraremos muito.

– Mesmo com avião não daria tempo. Deixaremos o barco aqui e vamos voando. Está pronta?

– Adriel, sinto uma sensação ruim. Sei que não podemos deixar de ir, mas tenho medo.

– Também sinto, pequena. Fique aqui à minha espera. Voltarei assim que puder e continuaremos nossa lua de mel. – Ele tinha sentado à beira da cama, comigo ao seu colo, como sempre fazia quando queria que eu prestasse atenção. Uma de suas mãos segurava as minhas enquanto a outra arrumava um cacho de cabelo atrás de minha orelha.

– Não. Nem pensar. Ficaria louca aqui, sem notícias suas e além disto, é meu povo também e minha responsabilidade. Se tivesse concordado com Elros e fechado o Portal eles estariam seguros.

– Fechar o Portal estava fora de cogitação. Você não poderia perder contato com seus únicos parentes. Não se culpe. – E beijou-me no rosto, carinhosamente, ao dizer isto.

– Pode ser, mas quero ir junto e estamos perdendo tempo com esta conversa. Vamos.

– Está certo, querida. Apenas quando chegarmos ficará fora da área de luta, Não quero que corra perigo.

Levantamo-nos e antes de partir, agarramo-nos, trocando um beijo esfomeado.

Adriel pegou-me em seus braços tão fácil como se fosse um pacotinho de 1kg de arroz e voou em direção às nuvens para não despertar atenção.

Ele voou o mais rápido que pode e chegamos a Portal do Sol em menos de 20 minutos. Do alto avistamos explosões em várias partes do complexo, deixando rastros de fumaça escura.

Pousamos na varanda de nossa casa onde a confusão parecia se concentrar, com uma profusão de anjos e demônios lutando em duplas em meio a elementais de Etera engalfinhados com elfos negros.

Apontei a Adriel um dos cantos e seguindo meu olhar deu com Yzar e Eileen que apenas observavam o desenrolar da disputa. Ambos estavam ricamente trajados e em pose altiva, denotando serem os líderes dos invasores.

Alguns anjos de Celes estavam próximos, procurando chegar até o bandido, mas sem conseguir passar pela sua guarda. Avistamos Gnon Knur comandando um grupo de arqueiros que atiravam flechas explosivas contra os demônios e vários outros elementais conhecidos envolvidos na luta.

Elros chegou por trás de nós, usando um escudo e uma espada para bater naqueles inimigos que se aproximavam.

– Adriel, Maise! Que bom que vieram, mas precisamos tirar Maise daqui e levá-la até onde estão as mulheres e crianças.

– Onde está Tana? E Niis? Estão seguros? – Indaguei ao lembrar-me de meus dois melhores amigos.

– Sim, mas recusaram-se a ficar no abrigo e estão na defesa do Portal, com o restante dos Gnomos e Fadas.

Os demônios tinham percebido nossa presença e é lógico que agora se aproximavam ávidos para o ataque. Adriel era seu maior inimigo e eu era a herdeira de Etera. Éramos os melhores alvos.

Elros protegia-nos com o escudo e Adriel fazia uma pequena ventania com suas asas, dificultando a aproximação.

– Vamos, Maise. Vou tirar você daqui. – Ele disse.

Tudo aconteceu em breves segundos, mas foi tão intenso que pareceram durar horas.

– Olhem o anjinho chegou. Trouxe a amada como escudo? – Yzar falou, concentrando as atenções.

– Fique longe dela, Yzar. Sua disputa é comigo. – Respondeu Adriel, abraçando-me.

Foi neste momento que vi minha avó Selena e minha mãe Luna surgirem na frente dele, caminhando para minha direção com expressões preocupadas.

– Vovó, Mamãe! – Exclamei surpresa, enquanto um grupo que chegara pela lateral atacava Adriel e Elros com intensidade, fazendo-o soltar minha cintura e forçando-o a se defender.

Elas chegaram até onde estávamos e posicionaram-se ao meu redor. Percebi que estava sendo envolvida por uma camada energética grossa, apesar de transparente. Olharam-me sorrindo e pegaram em minhas mãos.

Distraídos como estávamos, Adriel e Elros lutando com o grupo de demônios e eu com a presença de minha mãe e avó, esquecemos Yzar. Não vimos que dera forma a uma flecha de fogo e que a apontava em minha direção.

– Maise, cuidado! – Foi Adriel o primeiro a perceber quando ela já tinha sido atirada certeira em rumo ao meu coração.

Empurrou-me para o lado rapidamente e cai no chão, sem poder lhe contar que estava protegida pela barreira feita por minha avó e minha mãe.

Olhei para cima a tempo de ver a flecha atingindo-o em cheio e explodindo em seu coração.

– Adriel! Não!!! – Gritei, levantando enquanto ele tombava.

Aproximei-me junto com todos e fiquei desesperada com o sangue que saia de seu corpo e aquelas pessoas tampando todo o espaço. Não sei como fiz aquilo. Apenas quis que todos sumissem, desaparecessem, para que pudesse ver e ajudar Adriel direito. Senti a expansão da barreira que me envolvia, empurrando todos que estavam próximos para longe.

Quando me abaixei e vi seu estado, senti tanta fúria contra Yzar, Eileen, os demônios e elfos negros que não percebi estar canalizando este sentimento junto com a barreira em forma de forte vendaval que arrastou todos para os ares e para fora.

Ele estava inconsciente, agora quase todo coberto por sangue. Respirava ainda, fracamente.

– Adriel, amor, estou aqui. Ouve-me? Fique calmo. Tudo ficará bem. Vou chamar as fadas de cura.

Levantei a cabeça e só então percebi o silêncio e o final das lutas. Minha mãe e minha avó tinham desaparecido e Elros, Gnom e Liah aproximavam-se rapidamente.

– Maise. – A voz dele era muito fraca. Estava com os olhos abertos. Abaixei-me para ficar próxima ao seu rosto.

– Psiu. Não fale, querido. Eles já estão chegando.

– Não há mais tempo. Não se esqueça do que me prometeu. Procure ser feliz. – Cada frase era seguida por uma golfada de sangue.

– Quieto, amor. Descanse. Depois falaremos. – Eu estava apavorada e as lágrimas desciam sem controle enquanto tentava estancar o sangue que jorrava de seu peito.

– Eu te amo. – Adriel continuou a olhar-me com seus doces e ternos olhos verdes, mas a cabeça tombou em minhas mãos e ficou imóvel.

– Adriel!!! Resista, amor. Por favor, resista. Não me deixe. – Eu procurava sentir seu coração dilacerado pela flecha.

– Vovó, Mamãe! Por favor, ajudem-nos! – Pedi, implorando, mesmo sem vê-las.

Neste momento os três chegaram até nós e olhei para eles suplicante.

– Ele desmaiou. Por favor, tragam as fadas de cura, rápido!

Eles olharam para Adriel e trocaram olhares entre si. Então vi!

A camada de energia que sempre envolvera Adriel e que eu achava tão linda estava movimentando-se em torno de seu corpo e pequenas partículas brilhantes dispersavam-se, saindo dele e desaparecendo no céu.

– Façam algo, rápido! Ajudem-me! – Eu tentava com as mãos segurar o que ele chamara de aura e impedir que saísse de seu corpo, mas eram cada vez mais rápidas e não dava conta. Quando vi que atravessam minhas mãos, percebi a inutilidade do gesto.

– Eliah! O que está acontecendo? Porque a aura está saindo dele e dispersando no ar?

– Maise… – Ele abaixou-se e tentou pegar minhas mãos. Vi seu olhar entristecido e não quis sua aproximação.

Levantei-me tentando novamente segurar as centelhas brilhantes que agora eram como uma nuvem despregando-se de seu corpo. Logo estavam alto demais para que sequer as tocasse e vi quando sumiram no azul.

Olhei novamente para Adriel. Ele estava diferente. Era seu corpo, mas não parecia ele. Era só a casca vazia feita com as energias da Terra que aderiram ao seu corpo espiritual, pensei com um sopro de esperança. Adriel não estava ali. Onde estava?

– Eliah, para onde ele foi? – Sem esperar por resposta, saí procurando-o pela casa, dizendo alto seu nome.

Quando vi que não estava ali, lembrei-me da cabana. Sim! É lógico! Adriel estava lá, à minha espera.

Saí correndo pela praia, mal percebendo todos os anjos e elementais que rodeavam a casa em profundo silêncio.

Cheguei sem fôlego à cabana e abri com um empurrão a porta.

– Adriel! Adriel, amor, onde você está! Estou aqui. – A cabana estava vazia e parei alguns instantes, confusa.

– Sim. A praia. É para lá que foi para refazer-se. É o que ele faz quando precisa renovar energias.

Sai rápido e atravessei correndo a pequena trilha em direção à praia.

Lá estava sua pedra. Vazia.

Aproximei-me sem acreditar, chamando-o ainda e quando concebi que não tinha outro lugar onde procurar, desesperei-me com a sensação de dor e vazio em meu peito.

– Adriel!!!! Adriel!!!

Gritei em direção ao horizonte e ao universo, com toda minha voz e força até que ela acabou-se e minha voz tornou-se apenas um lamento triste. Os joelhos dobraram-se na areia próxima à pedra de Adriel e agarrei-me a ela, soluçando e dizendo baixinho seu nome.

– Adriel. Adriel. Meu amor. Onde você está?

…

Texto registrado no Literar.

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ETERA – Livro 2 da Trilogia do Anjo

by A Itinerante - Neiva 19/09/2009
Escrito por A Itinerante - Neiva


Prólogo

(narrador)

Eileen estava em seus novos aposentos em Nigro, a terra dos Elfos Negros, preparando-se para a noite quando ouviu uma voz masculina, quente e sedutora.

– Olá, bela elfa.

Olhou para os lados em busca do dono da voz sem encontrar e achando que era sua imaginação, retornou aos seus preparativos.

– Bela e malvada! A combinação mais irresistível!

– Quem está falando? Onde está?

O espelho iluminou-se mostrando em seu centro um homem com o rosto oculto pelo chapéu. Fumava displicente, recostado em uma parede, parecendo totalmente à vontade.

– Quem é você?

– Um passarinho cantou que neste quarto mora uma elfa exilada de Etera com alguns segredos sobre anjos para compartilhar. Por isto estou aqui.

– Não compartilho sequer meu quarto quanto mais meus segredos com desconhecidos. Se não quer dizer quem é, fora daqui!

– Hum… E ainda é geniosa! Estou apaixonado.

Dizendo isto, saltou do espelho para o quarto e com uma reverência exagerada, ajoelhou-se aos pés de Eileen, beijando-lhe a mão e dizendo:

– Demônio Yzar, ao seu dispor, Mademoiselle.

– O inimigo de Adriel? O líder dos Demônios ….?

– O próprio, encantadora Eileen. E agora que já nos apresentamos, pode dizer se meu passarinho cantou corretamente?

– Sim. Eu freqüentava o palácio de Etera e tenho segredos que interessam a você. A questão é saber se você tem algo a oferecer em troca deles.

– Muito bem. Aprecio mulheres inteligentes e que vão direto ao assunto. O que deseja?

– O trono de Etera.

– Posso ajudar. Em um primeiro momento o importante para mim é destruir o anjo e o complexo, mas trânsito livre em Etera e a colaboração dos encantados será útil para meus planos futuros. Pode garantir isto?

– Sem problemas. Eu serei a rainha de Etera e eles, como súditos obedeceram ao que ordenar.

– Acordo fechado, gata. E com muito prazer. Vim apenas pela informação, mas prevejo que formaremos uma grande parceria. Você e eu juntos seremos imbatíveis. Que tal um beijo para selar nossa união? – Chegou o rosto mais perto para o beijo.

Eileen jogou-lhe um travesseiro para impedir a aproximação, mas ele virou fumaça antes de ser atingido.

Quando estava só, sorriu pela primeira vez desde que fugira de Etera. Yzar era charmoso, másculo e muito mais poderoso do que o patético Elros. Ela voltaria e mostraria a eles quem era a verdadeira rainha de Etera.

…

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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