20 anos atrás, meus filhos e eu morávamos em um charmoso sobrado de vila em São Paulo. Minha filha tinha alguns meses de vida apenas e meu filho pouco mais de 3 anos. Ele ganhou um Gameboy com o Pokemon Yellow de presente de Natal, mas em virtude de sua pouca idade frequentemente ficava perdido no jogo e pedia-me ajuda. Eu nunca havia jogado um game em minha vida e sempre recusava dizendo que também não entendia.

Até que certa noite tive insônia. Nunca fui muito fã de televisão e lembro-me de estar na cozinha tomando um café naquela madrugada, entendiada, sem ter o que fazer enquanto o sono não aparecia. Peguei o Gameboy para ver se conseguia entender o que fazer e comecei a jogar.

Felizmente era um final de semana, pois não consegui parar e a manhã encontrou-me ainda presa no jogo e só parei mesmo quando consegui finalizar. E isto apenas para depois jogar todos os demais Pokémons: Red, Blue, Gold, Silver, Cristal, …. Ao longo dos anos acompanhei a franquia sempre que possível, até mesmo com os filmes. Só mesmo não joguei este último, Pokémon Go e tudo que não era rpg.

Não lembro agora se já tínhamos o Playstation nesta época em que joguei o Yellow ou se adquirimos logo após. Mas quando terminaram os joguinhos disponível no Gameboy eu já estava viciada e parti para os Tomb Riders no console. E nunca mais parei de jogar.

Ao longo destas duas décadas mantive um carinho muito especial pela franquia Pokémon. Não apenas por ter me iniciado com ela, mas também por todo seu histórico, que é muito bonito.

Satoshi Tajiri, criador de Pokémon

Satoshi Tajiri, o fundador da Game Freak e da multimilionária franquia de Pokémon, tem Asperger, uma forma mais leve de autismo. Talvez por conta disto foi um garoto tímido que colecionava insetos na infância e tinha o sonho de se formar como Entomologista (estudiosos de insetos), o que lhe rendeu o apelido de Mr. Bug. Ele retirou deste profundo conhecimento da vida dos insetos e das plantas a inspiração para os pokémons de seu jogo. Dizem que Ash é o próprio criador e não duvido.

O fato de ter esta história bonita por trás da criação do jogo já o tornaria especial para mim, mas a franquia também transpira pureza, bons princípios, bondade. É um jogo que não tem maldade, brutalidade. É cheio de respeito à natureza e à cultura japonesa. Eu acho isto bonito e diferenciado. Não é apenas um jogo criado para vender. Pokémon tem alma. E uma alma muito boa. 😀

Enfim… Duas décadas depois acontece meu reencontro com o Yellow. Eu não tinha lido ou visto praticamente nada sobre o jogo antes de iniciar. Não sabia o que me esperaria. As lembranças do jogo original também não estavam tão nítidas. Entretanto, assim que comecei a jogar elas afloraram e foi como uma volta ao tempo.

O que me assombrou em Pokémon Let’s Go é sua similaridade com o jogo original. Foi praticamente como se estivesse jogando o jogo original, apenas mais bonito e encantador. Parece magia o fato deles terem conseguido dar um visual tão bonito e moderno e ao mesmo tempo manter-se fiel ao visual original. É impressionante!

Os efeitos especiais dos movimentos estão simplesmente belíssimos. Os Pokemóns todos, aliás, estão perfeitos! Pikachú consegue ser ainda mais adorável, o que parecia impossível!

É realmente assim que penso que remakes devem ser feitos. Não reinventar a roda, apenas atualizar, modernizar, mantendo a essência do original. Maravilhoso!

Algumas inovações foram feitas no funcionamento do jogo em si, como, por exemplo, com os HM. No jogo original as habilidades essenciais para o jogo como Cut, Fly, Dig, Surf, etc… eram disponibilizados como os TM, habilidade não essenciais. E escolhíamos um Pokémon para portar a habilidade. Este Pokémon tinha que estar ativo no momento da utilização e isto era meio chato, porque às vezes não estavam e tínhamos que ficar trocando de Pokémons. No Pokémon Let’s Go as habilidades essenciais após serem adquiridas ficam disponíveis em um menu especial e não como uma habilidade de um Pokémon específico.  (Na verdade, nunca fiquei sem o Pikachu e não sei se depende dele para funcionar. Penso que não. De qualquer forma, não é um de seus movimentos.)

Estes comandos especiais são muito bem resolvidos e bonitos! O Surf, por exemplo, é mostrado com eles surfando em uma prancha, o Fly tem uma charmosa bicicleta com balões. Encantador!

Tudo funciona maravilhosa e belamente bem. Então, se é assim, porque achei que é um remake “quase” perfeito e não totalmente perfeito?

Três motivos:

1 – Falta de vozes para os personagens. Não entendi porque eles não tem vozes. Se a intenção é modernizar, seria natural que eles tivessem. Pareceu-me muita economia para algo que seria bem legal para os jogadores.

2 – Caça funcionando através de movimentos com o controle. Eu simplesmente odiei isto. É tão pouco prático! Detestável mesmo (em minha opinião). E quem tem problemas com movimentos?

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      Na caça os Pokémons aparecem dentro de dois círculos, sendo que o círculo interno vai diminuindo rapidamente e depois reinicia. Devemos jogar a pokébola dentro do menor círculo e quanto menor ele estiver, maior será a probabilidade de captura. O que não quer dizer que se atingirmos no menor tamanho, capturaremos. 90% das vezes a captura não ocorre na primeira vez, exceto quando estamos em um level muito mais alto do que o Pokémon a ser capturado.

       Alguns Pokémons são bonzinhos e ficam parados, mas outros ficam se locomovendo pela tela e aumenta a dificuldade de lançar a pokébola no local onde estão naquele momento. Na realidade, todo o processo parece elaborado por um sádico. É horripilante.

3 – Eliminação da opção de luta com Pokémons silvestres, com upagem de level ocorrendo através de caça apenas. No original ao nos depararmos com Pokémons ao longo do percurso, tínhamos as opções de lutar, capturar ou correr da luta. Neste podemos apenas capturar ou correr. Se correr não upa.

      Em função do fato de que a caça é através de movimentos com o controle e de que odiei isto e      também do fato de que gosto de caçar apenas um Pokémon de cada espécie e não vejo sentido em caçar trocentos da mesma espécie, isto me aborreceu tremendamente, mas tremendamente mesmo!

Versão normal e shiny de um Pokémon

       Existe uma nova função na caça, de Chains, em que capturando muitos do mesmo Pokémon, em sequência, podemos não apenas capturar uma versão rara (shiny) como aumentar o rate de xp ganho com a captura. Algumas pessoas gostaram muito desta inovação.

       Se você apenas lutar com os treinadores e capturar apenas um Pokémon de cada espécie, como eu estava fazendo, não conseguirá upar o suficiente. Cheguei ao 5o. ginásio com meu Pikachu no level 43 e os demais abaixo de 40, sendo que o level 45 é exigido para este ginásio. Ou seja, você é OBRIGADO a caçar, querendo ou não.

Não fosse estas questões da falta de vozes, caça por movimento de controle e falta da opção de luta com Pokémons silvestres e Pokémon Let’s Go teria sido o mais perfeito e memorável remake que eu já joguei. Por conta delas, entretanto, ele é apenas “quase” perfeito.

Estas questões não atrapalharam a maior parte dos amigos que consultei. Ao contrário, foram apenas elogios à caça e à falta de luta com Pokemons silvestres.

Questão de estilo de jogo, acredito. 😀

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