Depois de meses de expectativa e especulações, finalmente pude concluir a incrível saga de Clive em Final Fantasy XVI, explorando a maior parte do conteúdo extra disponível no jogo. No momento, estou apenas a dois troféus da platina, e acho que é um bom momento para compartilhar minhas impressões sobre esse game marcante da franquia FF. Em meio a um espetáculo visual, encontramos um jogo que poderia facilmente se tornar um dos maiores e melhores da série, mas que deixou a desejar em alguns aspectos. Vamos analisar ponto a ponto toda essa história.
Farei o meu possível para manter a imparcialidade e analisar FF XVI de acordo com suas propostas e nada mais, mas, considerando o histórico marcante da franquia, algumas comparações serão inevitáveis em determinados momentos.
Enredo
Vamos começar pela parte fácil, já que elogiar o enredo de FF XVI é algo que venho fazendo praticamente desde o primeiro minuto de jogo. Com uma história grandiosa, uma escrita madura e um maravilhoso conjunto de personagens, todos os elementos que compõem a história principal e suas dezenas de contos secundários beiram a perfeição.
Nossa aventura nos leva pelo mundo de Valisthea, onde conhecemos Clive, um habilidoso cavaleiro real e protetor de seu irmão mais novo, Joshua.
Nesse mundo, existem pessoas que nascem com a capacidade de canalizar o Éter, a energia vital do planeta, para dar forma a diferentes tipos de magia. Alguns desses indivíduos são ainda mais “sortudos” e podem canalizar quantidades avassaladoras de Éter para invocar seres poderosos chamados Eikons.
Essas pessoas costumam ocupar posições de liderança em seus reinos, pois são verdadeiras máquinas de guerra capazes de dizimar centenas de soldados inimigos com facilidade e mudar o curso de qualquer batalha em que estejam presentes. Algumas nações os tratam como divindades, outras como armas de guerra e outras ainda como escravos.
Clive acaba vivenciando eventos traumáticos em uma certa noite, os quais o colocam em uma busca por vingança que tomará boa parte de sua vida. No entanto, ele não esperava ser envolvido em acontecimentos muito maiores enquanto busca seus objetivos, embarcando em uma jornada que pode mudar o rumo da humanidade.
De maneira geral, os eventos da história são bem cadenciados. Há momentos tranquilos, em que vemos os relacionamentos se estabelecerem e evoluírem, ao mesmo tempo em que conhecemos melhor o mundo cruel de Valisthea e como sua dureza afeta seus habitantes. E, é claro, também existem momentos intensos de clímax que conseguem deixar qualquer um na ponta do sofá, ansioso para desvendar os mistérios por trás dessa história fantástica.
Outro destaque são os personagens secundários, que são bem desenvolvidos em um nível que nenhum FF fez no passado. O esconderijo de Cid, em particular, é composto por figuras que você irá conhecer, entender e se apaixonar ao longo do jogo. Fiquei extremamente satisfeito com o cuidado e o desenvolvimento desses personagens, e espero que isso se torne um padrão para o futuro da série, pois enriqueceu consideravelmente o universo do jogo e a jornada pessoal de Clive.
E já gostaria de adiantar e falar sobre as lutas contra os chefes da história principal. Elas são tão incríveis que beiram o inacreditável, com efeitos e espetáculos visuais com potencial para marcar a história dos jogos em geral. Duas delas, em particular, me provocaram uma euforia que não me lembro de ter sentido em nenhum outro jogo recente, terminando com as mãos tremendo e a mente em estado de êxtase com o que havia acabado de presenciar.
Ao contrário de Final Fantasy XV, a história de FF XVI não depende de DLCs ou conteúdo externo para fazer sentido e possui um começo, meio e fim completos dentro do jogo. Ao final, eu estava em um misto de lágrimas e emoções que só a série Final Fantasy é capaz de provocar. É uma história marcante com uma narrativa muito bem construída que estabelece um novo patamar de qualidade para a série.
Além da qualidade da narrativa, a construção do mundo do jogo também foi levada a sério, e fica evidente o cuidado que tiveram com os detalhes e as ferramentas para enriquecer a Lore deste universo.
Temos personagens como Vivian e sua “mesa de guerra”, onde podemos acompanhar em tempo real o impacto das ações do passado e do presente do jogo nas diferentes regiões de Valisthea.
Temos Harpócrates e seus Mil Livros, uma verdadeira enciclopédia que elimina praticamente todas as dúvidas em relação aos personagens, histórias e ao mundo do jogo. Os amantes da Lore ficarão extasiados aqui, passando horas mergulhando de conceito em conceito para entender 100% do jogo.
E, é claro, temos também o incrivelmente útil Sumário Dinâmico, que nos permite pausar cutscenes para ler mais informações sobre os personagens, mapas e monstros envolvidos.
Resumindo, apesar de um ou dois pequenos deslizes momentâneos, temos uma história grandiosa e bem contada aqui, que poderá facilmente entrar para o hall da fama da série Final Fantasy.
Jogabilidade
Agora vamos falar sobre o primeiro fator que divide opiniões no jogo: o combate.
Há muito tempo já sabíamos que o jogo tentaria abraçar totalmente o estilo de ação, e a pergunta era o quanto de suas origens como RPG seriam mantidas.
O resultado dessa fusão é um combate extremamente polido e bem feito, mas que peca pela simplicidade e pela falta de alguns aspectos estratégicos vistos em outros jogos da série.
Clive possui um combo básico de espada e pode equipar três Eikons de uma vez, cada um deles fornecendo a ele duas habilidades para as lutas. Isso significa que você pode levar seis habilidades especiais para os combates, e a escolha de quais Eikons e habilidades equipar irá definir o seu estilo de combate.
A jogabilidade em si é extremamente bem feita, com controles precisos, animações belas, ágeis e uma infinidade de combos possíveis para serem explorados.
Seja durante lutas contra grupos de inimigos menores ou contra chefes, a sensação de aprimorar suas habilidades como jogador e dominar os Eikons e suas magias torna o combate extremamente divertido e viciante. A cada nova habilidade desbloqueada surgem novas possibilidades e, ao chegar ao final do jogo, Clive possui um incrível arsenal que permite criar combos impressionantes e divertidos.
No entanto, o problema está no fato de que, de forma geral, sua maior preocupação durante as lutas será causar dano de forma simples e direta. Não há buffs, não há debuffs, não há variação entre ataques mágicos e físicos, nada disso! A falta desses elementos se torna mais perceptível nos momentos mais avançados do jogo e cria um impacto negativo em algumas lutas, fazendo com que elas se resumam a desviar e atacar. Esse ritmo é bem diferente do que vimos em outros jogos da série (como no incrível Remake de FF VII), e após 80 horas de jogo, algumas lutas começaram a se tornar enjoativas e repetitivas, já que é possível vencer a maioria delas literalmente da mesma forma.
Outro aspecto negativo é a falta dos companheiros de equipe (party) da forma como conhecíamos nos jogos anteriores. Em FF XVI, temos companheiros momentâneos que se juntam a Clive em momentos específicos da história, mas assim como Clive, a participação deles nas lutas se resume a causar dano, e você não tem nenhum controle sobre suas ações, equipamentos e habilidades.
Seu único companheiro fixo é Torgal, que é um ótimo personagem em termos de história, mas que deixa a desejar como parceiro de combate. Ele possui três habilidades, mas nenhuma delas é marcante, e exceto nos momentos em que você desejar criar combos acrobáticos, você pode esquecê-lo completamente sem que haja nenhum impacto negativo nas lutas. Além disso, ele não possui nenhuma opção de customização de equipamentos, apenas um sistema de nível que avança automaticamente à medida que você progride na história.
Customização e Equipamentos
A customização de Clive é feita de duas maneiras: através de seus Eikons e de seus equipamentos. Vamos focar neste último ponto agora.
Resumidamente, Clive possui seis espaços para equipamentos: arma, cinto, bracelete e três outros acessórios. Os três primeiros itens têm como única função aumentar a vida, o ataque, o atordoamento e a defesa de Clive. Não há atributos como MP, chance de crítico, esquiva, velocidade, poder mágico, etc., e também não há necessidade de escolher entre eles. O jogo apresenta a versão mais forte para cada um desses slots (geralmente como recompensa durante a história ou através do ferreiro), e você irá trocá-los regularmente sem critérios ou decisões.
Quanto aos acessórios, eles possuem efeitos como redução do tempo de recarga ou aumento do dano causado por alguma habilidade específica mas, infelizmente, na maioria dos casos, o impacto prático não é significativo. Isso se torna um problema menor no New Game+, onde é possível fundir esses acessórios para aumentar seus efeitos, mas é necessário esperar até lá para sentir um impacto real ao equipá-los.
A árvore de talentos também deixa a desejar. Além de haver poucos nós para desbloquear (apenas cinco por Eikon), a maioria das habilidades tem apenas um upgrade que oferece melhorias práticas em combate, sendo o segundo upgrade opcional e apenas para permitir equipar aquela habilidade no slot de outro Eikon.
Mais uma vez, vemos uma simplificação excessiva de um elemento do jogo aqui, que difere bastante das árvores de habilidades que vimos em jogos como FF X e XII. Dependendo da quantidade de conteúdo secundário que você fizer, aos 60% do jogo você já terá pontos suficientes para estar sempre com seu kit de habilidades maximizado, pois ao trocar de uma habilidade para outra, basta redefinir a árvore e realocar os pontos nas habilidades que estiver utilizando no momento. Isso reduzirá a importância dos pontos de habilidade a partir de um determinado momento e é triste pensar no potencial desperdiçado aqui, ficando um gosto amargo ao observar como poderiam ter feito mais nestes aspectos de customização e status.
Exploração
Felizmente, este foi o ponto em que tive uma grata surpresa. Fiquei feliz desde o momento em que anunciaram que abandonariam o modelo de mundo aberto para FF XVI, e o que vi aqui confirmou como o modelo semiaberto se encaixa perfeitamente na série Final Fantasy (pelo menos até que a Square Enix aprenda a criar mundos abertos empolgantes e divertidos).
O jogo é composto por seções lineares e mapas abertos que se expandem à medida que a história avança, formando regiões inteiras com múltiplos pontos de viagem rápida em cada uma delas. Esses mapas são amplos o suficiente para oferecer exploração e até mesmo regiões completamente opcionais relacionadas a side quests e caçadas.
Sentimos nostalgia de jogos como FF X e XII, e vemos uma evolução no design dos mapas, que estão entre os mais belos que já vi na série.
Infelizmente, a simplificação excessiva da customização de Clive afeta algumas áreas do jogo, e uma delas é justamente a exploração. Com um sistema de equipamentos tão simples e ineficaz, os tesouros e recompensas do jogo perdem um pouco de sua importância. Com o passar do tempo, eu já não sentia a mesma curiosidade e empolgação ao encontrar um novo baú, pois, independentemente do que encontrasse, não teria um impacto significativo no sistema tão simples de equipamentos do jogo.
Side Quests e Caçadas
A série Final Fantasy, em minha opinião, nunca foi particularmente boa quando se trata de side quests, com algumas poucas exceções que nos levavam a super chefes ou armas poderosas. Na maioria dos casos, a diversão estava na recompensa, e não no processo em si.
No entanto, em FF XVI, as side quests são abordadas de forma diferente e representam uma evolução para a série. As primeiras que encontramos ao longo do jogo são relativamente simples em sua execução, mas estão repletas de diálogos interessantes que explicam informações sobre a lore das cidades, suas culturas, problemas e o estado geral do mundo de Valisthea.
Ao chegar à segunda metade do jogo, no entanto, elas evoluem muito em sua abordagem, chegando a se assemelhar a momentos da história principal devido aos eventos que se desenrolam dentro delas. As side quests que surgem nos últimos capítulos são utilizadas para concluir cada um dos núcleos secundários do jogo, além de nos aprofundar em detalhes importantes sobre os personagens que acompanham Clive em sua jornada. Essa evolução foi tão significativa que, quando concluí a última delas, ainda estava ansioso por mais. Foi uma forma interessante de dar importância ao incrível grupo de personagens secundários do jogo e um grande avanço na direção correta para a série no que diz respeito às side quests.
Além das missões secundárias, também temos o retorno das caçadas, seguindo o estilo de Final Fantasy XII. As Ameaças Notórias demoram um pouco para serem desbloqueadas, mas compõem um grupo de monstros de elite que vagam pelos mapas do jogo e representam um bom desafio para aqueles que desejam enfrentá-los. Elas variam em dificuldade, desde versões um pouco mais fortes de inimigos comuns até alguns chefes mais elaborados de Rank S, que podem ser um desafio se você não aprender suas mecânicas e como desviar de seus ataques.
A implementação dessas caçadas foi executada de uma forma muito boa dentro do jogo, e foi um prazer reencontrar praticamente todos os monstros clássicos da série aqui, com um design maravilhoso tanto em termos visuais como em suas mecânicas de combate.
Infelizmente, essa área também foi afetada pela simplificação de alguns sistemas do jogo. Como o jogo não possui debuffs e não diferencia entre ataques mágicos e físicos, senti falta de ter que alterar completamente meus equipamentos e estratégias antes de enfrentar determinado monstro para lidar com suas particularidades. Ainda assim, as lutas são divertidas o suficiente para fazer com que o jogador queira enfrentar todas elas, sem falar que a busca pelos monstros nos belos mapas do jogo também será parte da diversão.
Trilha Sonora
Nosso mestre Soken nos presenteia com uma verdadeira obra de arte quando se trata das músicas de FF XVI. Desde a música calma do esconderijo de Cid até as orquestras incríveis presentes nas lutas contra chefes, o jogo é um deleite para os ouvidos, e a trilha sonora estará na minha playlist diária por um bom tempo. Se o prêmio de trilha sonora do ano não vier para este game, já acuso de injustiça! rs.
Conteúdo Secundário, Pós-Jogo e NG+
Final Fantasy XVI não possui um pós-jogo convencional. Ao longo da história principal, há uma grande quantidade de side quests e caçadas para compor o conteúdo secundário do jogo, mas nenhuma delas é exclusiva do pós game. Após derrotar o chefe final, é possível recarregar o último save e retornar ao ponto anterior à batalha, onde você poderá concluir qualquer atividade que tenha ficado pendente.
Além disso, o jogo possui um divertido sistema de New Game+, que oferece novidades como a quebra do limite de nível (permitindo que Clive evolua até o nível 100), novos upgrades para os acessórios e armas no ferreiro e alterações nos inimigos do jogo, que serão reposicionados (de forma a incluir inimigos mais fortes desde o início) e até mesmo apresentar alguns inimigos que não enfrentamos anteriormente durante a história.
Em geral, é um bom volume de conteúdo extra, e a platina provavelmente levará em torno de 80 a 100 horas para a maioria dos jogadores.
Conclusão
Final Fantasy XVI é, sem sombra de dúvidas, um marco positivo para a série. Diferentemente do último grande título da franquia, aqui temos um jogo que abraçou uma nova direção e a executou com maestria e cuidado.
Quando penso na incrível história que acabei de vivenciar, nas lutas contra chefes épicas, nas músicas de tirar o fôlego e na jogabilidade ágil e divertida, considero Final Fantasy XVI um dos melhores jogos de 2023, sem dúvida alguma.
Infelizmente, essa nova direção sacrificou alguns elementos que, para alguns (como eu), são importantes para a série e farão falta caso esse seja o novo rumo definitivo da franquia. No entanto, ainda estou mais esperançoso do que preocupado no momento.
E agora, que comece o hype para o VII Remake Parte 2! 😀
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Final Fantasy XVI
Plataformas: Playstation 5
Data de Lançamento: 22/06/2023
Gênero: RPG de Ação
Desenvolvedora: Square Enix
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