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Fanatismo – Poesia de Florbela Espanca interpretada por Fagner
Descobri Florbela folheando poetas na Livraria Cultura e foi amor à primeira vista. Pareceu-me que estava a ler os meus pensamentos e sentimentos e não os dela e usei muito suas poesias nos momentos em que minhas próprias palavras eram poucas e pobres. Gosto tanto dela que cheguei a programar uma viagem à Évora que ela tanto gostava, apenas para pisar no mesmo chão que pisou, ver os lugares que viu e a casa onde morou e escreveu versos tão lindos.
Florbela Espanca viveu para o amor pela poesia, pelo irmão, pelos namorados e maridos, pela vida. Portuguesa, filha ilegítima tardiamente reconhecida, teve vida pessoal e amorosa tumultuada. Paixões infelizes, alguns abortos expontâneos, o falecimento precoce de seu irmão e um diagnóstico de edema pulmonar culminaram em seu suicidio aos 36 anos.
Seus versos são explosões de puro sentimento, na forma mais crua e honesta, sem disfarces, sem pudores em despir a alma através das palavras. Românticos, normalmente melancólicos, raramente alegres, por vezes sutilmente eróticos e sempre extremamente líricos.
Impossível escolher um ou dois e dizer que são meus prediletos, então trouxe 2 apenas como exemplos:
SE TU VIESSES VER-ME HOJE À TARDINHA
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…
OS VERSOS QUE TE FIZ
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
…
Se estes já são tão belos, fico só imaginando como seriam aqueles que guardava para ele.