A lenda da Moça-Lua

Muito antigamente só havia a noite e o dia. E a noite era tão escura que deixava os homens assustados e aconchegados em suas casas, ao pé do fogo. Em toda a tribo, só uma índia não tinha medo da noite. Ela saía na escuridão e voltava com os cabelos cobertos de vaga-lumes. Passeava na beira do rio, mas todos ficavam tranqüilos porque ela dizia que não havia perigo.

Esta índia era diferente de todas as outras, pois nascera com a pele muito branca e nada lhe metia medo, muito menos uma noite escura. Entretanto, havia uma outra índia de olhar escuro como a própria noite que não via o ato da outra com bom coração. A inveja foi crescendo dentro dela e um dia tentou caminhar noite a dentro, mas acabou cortando os pés nos gravetos e seixos da margem do rio.

Cheia de ódio e inveja, foi então falar com a cascavel:

-“Cascavel, preciso de teu auxílio”

-“Para o bem ou para o mal?”, perguntou a rastejante

-“Para o mal”

A cascavel bailou feliz, pois sua vida e seu veneno estavam a serviço dos maus trabalhos:

-“Que quer que eu faça?”

-“Que mordas o calcanhar da índia branca”

– “A que não tem medo da noite?”

-“Esta mesma”

-“Para matar?”

-“Que fique escura, verde, velha e muda”.

A cascavel mais uma vez saltou de alegria e prometeu:

-“Hoje mesmo!”

À noite quando a índia branca foi fazer seu passeio…A cascavel se arrastou e ficou debaixo de uma pedra esperando. Quando a índia passou cantando, a cascavel deu o bote, mas se deu mal, pois a jovem tinha os pés calçados com duas conchas de madrepérolas. A cobra acabou quebrando os dentes e com eles perdeu seu veneno:

-“Índia infeliz, o que fizeste comigo!

-“O que pretendias tu fazer comigo?”

-“Ia te fazer escura, verde, velha e muda”

-“Fui salva então, pelo sapato de conchas que o boto me deu”.

-“E eu fiquei sem dentes e sem veneno”.

-“Mas porque que querias me transformar?” indagou a índia branca.

-“Porque és linda e a índia escura não suporta tua presença…”

-“Foi ela que te mandou?

-“Sim, pois ela sofre”

Então a indiazinha branca começou a chorar, jamais imaginou despertar tanto ódio à alguém. Suas lágrimas eram gotas de luz, tão leves que flutuavam e permaneciam no céu. Todos os índios se espantaram com o acontecimento, pois agora a noite já não era tão escura.

Depois da índia chorar muito disse:

-“Não posso mais viver entre os que me odeiam”. E passou por cima das águas do rio, até o outro lado. A cascavel meteu-se em um buraco de onde nunca mais saiu.

Chegando ao outro lado, procurou a coruja:

-“Mãe coruja, ajuda-me a chegar ao céu”

-“Minha filha, pede e eu farei”.

Então a jovem foi colher cipó e flor de manacá. Trançou tudo e fez uma escada muito linda. Pediu então a coruja:

-“Voa bem alto e suspende esta escada para que eu possa subir”.

A coruja obedeceu e chegou até a porta do céu com a maravilhosa escada e a índia branca subiu. Chegou até a céu, acomodou-se em uma nuvem e lá ficou para nunca mais voltar.

Os índios ao olhar para o céu viram aquela forma reclinada branca e brilhante, vagando entre as nuvens, rodeada de lágrimas de luz.

Disseram:

“A Lua, a Lua!”

A índia escura e invejosa olhou e ficou cega de ódio. Contam que foi morar na cova da cascavel, pois nunca mais foi vista.

Moça Lua, no entanto, continua até hoje a povoar a noite. E os homens sonham, um dia, poder construir uma escada igual à dela, para poder ir ao seu encontro.

Fonte: Lendas Índigenas

Hoje é aniversário da Índia Manauara, uma linda e doce moça branca que não tem medo da noite e que tal qual a lua, ilumina-nos com o brilho de suas palavras.

Obrigada, querida, pela sua amizade. Feliz aniversário. :DDD

Deixe um comentário