Ela abriu a porta. O cheiro de banho recém tomado e sabonete escapou do ambiente e penetrou refrescante em minhas narinas. Usava um vestido de alças, deixando os ombros e o colo delicado à mostra. Seu rosto estava iluminado pelo sorriso. Pena que assim que me viu, encerrou-o.
“Quem ela estava esperando?” – Pensei enquanto a observava abrindo a boca surpresa. Parecia uma repetição da praia e quando começou a levantar a mão, lembrei-me que após tapar um grito saíra correndo tão rápido que nada pude fazer.
“Desta vez não!” – Instintivamente segurei seu braço para impedir que fugisse.
– Você não vai sair correndo, vai? – E complementei com um sorriso, esperando ser o suficiente para a reter.
– Nããão. – Respondeu, parecendo ainda indecisa.
– Sou Adriel, seu vizinho. Moro na outra ponta da praia. Antônio pediu-me que lhe desse uma carona. Ele não te avisou? – Expliquei ainda segurando delicadamente seu braço. A pele era macia e quente e não tinha pressa em retirar minha mão. Ela pareceu confusa ainda, mas logo reagiu.
– Hum… Espera, quer dizer, entre. – Seguiu apressada para o interior e acompanhei-a. Pegou uma bolsa em uma mesa e tirou de dentro um celular, olhando-o séria. Mostrou-me.
– Sem bateria. Esqueci. Antônio deve ter tentado falar comigo e não conseguiu. Espera um minutinho, Adriel? – Sorriu levemente ao dizer a última frase ao mesmo tempo em que já ia em direção à uma tomada elétrica. Ligou o aparelho no recarregador e logo começamos a ouvir bipes.
– Está vendo? – Mostrou-me o celular como se fosse uma prova. Então discou um número e começou a falar com Antônio.
Ouvi vagamente enquanto explicava a ele porque não atendera a seus chamados. Estava vendo o interior da cabana e sentindo todos os cheiros que exalava. Banho fresco, flores, frutas. Tão diferente dos que me rodeavam. Totalmente feminino. A decoração era simples e rústica parecendo não combinar com ela e lembrei-me que era de seu pai antes. A um canto um cavalete virado para a parede. Antônio disse que era artista. Senti curiosidade em olhar para ver o que pintava e como era o estilo, cores e luzes que usava e também o tema. Queria ver aquela tela. Conheceria muito sobre ela apenas de ver uma de suas pinturas e só a boa educação impediu de desvirá-la para olhar. Mais tarde talvez me mostrasse se pedisse e pediria certamente. Neste momento encerrou a ligação e virou-se para mim, dizendo:
– Desculpe. Antônio se esqueceu de avisar quando nos falamos na vila e passou o dia tentando falar comigo, sem conseguir. Estava preocupado, já. – Parecia realmente constrangida.
– Não se preocupe. Estas coisas acontecem. – Apesar de tudo esclarecido ela continuava quieta, olhando para os dedos dos pés e parecia triste ou era imaginação? – Está tudo bem agora?
– Está. – Respondeu. E continuou imóvel. Nada parecia estar bem.
– O que houve? – Arrisquei perguntar. Ela suspirou, caminhou até a cama e sentou na borda lateral, com joelhos unidos apoiando o queixo em ambas as mãos antes de responder. Parecia frágil e pequena e contra a vontade consciente meu instinto era de pegá-la no colo e consolar até que sua perturbação desaparecesse e ela sorrisse novamente. Imaginei qual seria a sensação de abraçar seu corpo miúdo contra o meu. Deveria ser como pegar ao colo um animalzinho, mas melhor. A pele dela seria mais suave e agradável que pêlos, por mais macios que estes pudessem ser.
– É uma festa de boas vindas e não um jantar com sua família como pensei. – Disse como se isto explicasse tudo.
– E isto é um problema? – Não consegui entender seu raciocínio. Sentei-me em uma das cadeiras da mesa para me impedir de ir até ela.
– Não me saio muito bem com festas. Tenho problemas com sons altos e além disto… Não conheço ninguém além de Antônio. Ficarei perdida no meio de todo mundo.
– São pessoas boas, simpáticas, gentis. Você vai os adorar e eles a você. Tenho certeza. Eu conheço todos, ainda que não seja íntimo de ninguém. E também não gosto de festas e som alto. Se te serve de consolo também me sentirei um peixe fora d’água. – E não estava dizendo mentira alguma. Também não sabia que era uma festa ou não teria aceitado.
– É? – Parecia duvidar.
– É – Respondi. – Podemos ficar juntos dando apoio um ao outro. Assim que você achar que ficamos por tempo suficiente ou que está em seu limite com o som, invento uma desculpa para irmos embora. O que acha? – Até mesmo eu fiquei surpreso com minha proposta. De onde saiu isto? Vim ansioso apenas para terminar o mais rápido possível aquele contato, esperando acordar amanhã novamente dono de meu eu e esquecido desta garota. Por que agora estava favorecendo uma aproximação?
– Hummm… – Considerou por alguns segundos e então pareceu decidir, levantando-se. – Está bem então. Obrigada. – E sorriu aquele sorriso da porta. Sorri de volta, meio bobo, extasiado com a mudança que se operava em seu rosto quando sorria.
– Adriel? Começamos mal, não foi? Desculpe por aquele dia na praia e por hoje também. Podemos recomeçar? Sou Maise, muito prazer. – Estendeu-me a mão, ainda sorrindo.
– Adriel, encantado. – Peguei em sua mão, que era muito pequena na minha e levei-a até meus lábios em um cumprimento mais gentil. Ela pareceu gostar, pois ficou apenas um instante em silêncio antes de rir baixinho, retirando a mão e dizendo: – Vamos então?
Concordei e ainda com a sensação de sua pele quente em minha mão, segurei a porta para que passasse e ajudei-a a entrar em meu carro.
Texto registrado no Literar