Cheguei à cozinha quando Tana já estava com a mão na maçaneta da porta de saída.

– Aonde vai?

– Ai, menino! Já não disse para não me assustar deste jeito, andando assim silenciosamente?

– Não mude de assunto, Tana. O que sabe sobre o medalhão e onde está indo apressada deste jeito?

– Não sei de nada sobre ele. Só achei bonito. E estou indo… – Parou por um segundo procurando uma desculpa satisfatória, mas a conhecia bem demais para me deixar enganar. Ela não sabia mentir direito.

– Não sairá daqui enquanto não me contar tudo. – Postei-me em frente a porta.

– Adriel, menino, sabe que não faria nada ruim, não é? Não quero te contar porque ainda não tenho certeza. É isto que estou indo verificar. Deixe-me ir e na volta contarei tudo.

– Contar o quê?

– Acho que aquele medalhão pode ser o que a Rainha aguarda há mais de 20 anos. Preciso contar a ela. E também sobre a tentativa de assassinato da menina. Ouvi quando te falou. Parece ser um dos nossos. Cabelos brancos e orelhas pontudas são características dos elfos, mas não entendo. Qualquer Elfo de Luz ficaria feliz com o retorno do medalhão e protegeria seu portador. Só se for um Elfo Negro. Mas, que motivo teriam para tanto? Se quisessem o medalhão poderiam simplesmente furtar. Não seria necessário matá-la. Não faz sentido.

– Você promete voltar imediatamente e me contar tudo?

– Prometo. E enquanto isto mantenha a menina sob seus olhos. Não a deixe voltar para a tapera sozinha em nenhuma hipótese. Se for o que estou pensando a Rainha vai querer a ver imediatamente.

– Nem pensar, Tana. Maise passou por muita coisa nos últimos dias. Ela precisa de um tempo. Seja lá o que estiver acontecendo, diga isto à Rainha. Não permitirei que seja perturbada até estar totalmente recuperada e descansada. Uma visita à Etera está fora de questão pelas próximas semanas. – Ela me olhou de cima abaixo, querendo discutir, mas aparentemente sua pressa em ir até a Rainha venceu.

– Darei o recado, menino, só não vou prometer nada. Para a Rainha, o medalhão é importante, mas não tanto quanto a portadora. Vamos ver. Volto assim que possível. Não se esqueça: cuide dela. – Assumiu sua forma de fada e saiu voando com suas pequeninas asas.

Cheio de curiosidade, voltei à sala. Maise estava na varanda, olhando para o mar.

– Adriel, como é bonita a sua vista! Deve ser maravilhoso morar aqui. – Disse, sorrindo assim que me viu.

– Sim, é linda. – Respondi, mas não estava me referindo à paisagem. Mesmo cheia de arranhões ela estava linda. Seu cabelo brilhava ao sol e seus olhos azuis me hipnotizavam. Quando dei por mim estava tocando sua face com as costas de minha mão e a olhando embevecido. Retirei a mão e desviei o olhar constrangido. – Desculpe.

– Por quê?

– Por tê-la tocado sem sua autorização. Vai pensar que sou um aproveitador.

– Imagine, Adriel. Na verdade gostei muito. Fazia tempo que ninguém me fazia um carinho sincero.

– Ah, Maise, não diga isto. Já é difícil não me aproximar sem incentivo! Você está fazendo uma bagunça comigo.

– Eu? Por quê? Como assim?

– Você me deixa confuso. Normalmente não me sinto assim com humanas e tenho dificuldades em lidar com isto.

– Porque é um anjo?

– Sim. Não. Quer dizer, também! – Ela apenas me olhou daquele jeito, com os olhos azuis imensos bem abertos e interrogativos.

– Porque sou um anjo, também, mas é que estes sentimentos não são comuns em mim, normalmente. Não estou acostumado com eles e é perturbador. É estranho e incômodo. Eu estava planejando viajar uns dias, antes do seu acidente, para tentar me concentrar melhor, mas agora…

– Agora estou aqui, perturbando você novamente? Quer que eu vá embora? Assim pode retomar seu plano. – Ela parecia magoada ao dizer isto.

– Não! Você entendeu mal. Não é isto! Gosto de você. É adorável, surpreendente, cheia de vida, de calor, de alegria. Estar próximo a você é como estar mergulhado no sol, inundado de energia. É só que é bom demais e tenho a impressão de querer sempre mais e mais e de nunca estar satisfeito. Quero estar perto de você o tempo todo, entende? – Pronto! Falei! E seu rosto iluminou-se ao ouvir.

– Ah, que bonito isto do sol! Obrigada! Também gosto de estar com você. Gosto quando me toca e ainda mais quando me chama de querida. – Abriu um sorriso imenso e seus olhos brilharam felizes.

– Ahhh… Hummm… Bom… – Ela gostava de mim também? Estava perdido. Não encontrava mais meu raciocínio. Limpei a garganta, sacudi a cabeça e tentei recomeçar, mas ela riu. Acabei rindo junto de minha própria falta de jeito.

Texto registrado no Literar.

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Imagem: Maise encontrada originalmente em HJI.

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