(narrador)
Saindo da casa de Adriel, Tana seguiu para as árvores na lateral da casa e após poucos minutos chegou ao portal que dava entrada à Etera, o reino dos povos encantados. Atravessou-o rapidamente, saindo na estrada principal. Passou pela Vila dos Gnomos, com pequenas casas entremeadas nas árvores e pela minúscula Cidade das Fadas construída em flores e plantas, chegando ao Lago das Ondinas. Nem esperou pelo barco-cisne e voou até o centro, uma pequena ilhota onde estava o Castelo de Etera.
Eileen estava na sala do trono ao lado do Príncipe Elros e vários membros da Corte dos Encantados e viu a fada Tana entrar apressada, pedir uma audiência privada à Fada-Rainha Selena e quando esta aquiesceu, retirarem-se para a câmara particular. Ficou alheia ao burburinho que se instalou, com várias conjecturas do motivo da conversa. Ela bem podia imaginar qual o assunto.
“Anjo intrometido e fada fofoqueira!” – Murmurou entredentes, mas não tão baixo. Elros, seu noivo elfo e o principal conselheiro da Rainha perguntou o que tinha dito.
– Disse que preciso ir ao toalete, amor. Com licença. – E saiu na direção do mesmo, ao lado da câmara onde ambas estavam.
No corredor, colou-se à parede tentando – sem sucesso – ouvir algo.
– Droga! Preciso saber o que falam! Será que já sabem que fui eu? – Exclamou exasperada antes de se transformar em uma pequena formiga e passar por debaixo da porta.
“Precisamos saber…”, “Elros?”, “Guardar segredo…”, foi ouvindo trechos e palavras soltas até se aproximar o suficiente para ouvir integralmente o que diziam.
– Enquanto não soubermos de tudo, isto deve ficar entre nós. – Concluía a Rainha, prosseguindo logo após. – Infelizmente tenho que concordar com Adriel. Por mais que a deseje ver e contar tudo, não posso correr o risco de um passo em falso e prefiro aguardar uma ou duas semanas para que esteja tranqüila e mais adaptada às situações que têm encontrado aqui. Também é um tempo importante para que consigamos identificar quem está tentando a matar e por que.
– Mas, Rainha Selena, ela estará correndo perigo neste tempo. Quanto antes contarmos e ela vier para Etera, mais rápido ficará segura. – Considerou Tana.
– Não, querida. Não vou me arriscar. Não posso perdê-la. Faremos tudo calmamente. Com relação à sua segurança, tranqüilize-se. Estará sob vigilância e proteção constante de nossa guarda.
– Dos Elfos, Majestade? E se eles estiverem envolvidos?
– Dos Gnomos. Não tenho dúvidas quanto à fidelidade de Gnom Knur. Falarei com ele em seguida à nossa conversa e ela não ficará desprotegida nem mais um dia. Não quero dizer com isto que desconfie de Elros. Ao contrário. Apesar de aparentemente ser o único com motivos para não gostar de Maise ou de ter vantagens com sua morte, já deu provas inquestionáveis de sua lealdade. Foi sim o maior prejudicado com o que aconteceu naquela época, mas procurei o recompensar por outras formas e hoje é meu braço direito, substituto e sucessor. Além disto, está noivo de Eileen, que considero como uma filha. Não posso crer que nutra algum ressentimento.
– Sim. Também confio em Elros, mas como Maise aparentemente foi atacada por um elfo, faz bem em manter este assunto em outras esferas. Bem pensado, minha Rainha.
– Então vá, preciosa amiga. Agradeço demais por ter vindo me informar. Você sabe o quanto este assunto é importante. Não esquecerei sua lealdade. Obrigada. Agora vá. Procure saber toda a verdade sobre Maise e traga-me relatórios constantes.
– Com sua licença. – Após fazer uma breve reverência, Tana saiu. Eileen continuou observando. A Rainha bateu levemente o cetro no chão e um oficial de ordens surgiu à porta.
– Chame Gnom Knur.
Após a saída deste, aguardou planando quase imóvel no ar. Sua figura de pouco mais de 12 centímetros parecia maior nas conferências com os súditos, quando o conjunto formado pela pose majestosa, as ricas vestes invariavelmente brancas, a face idosa que exteriorizava sabedoria e experiência e a aura dourada que sempre a envolvia compunham imagem de tal poder que parecia maior até mesmo que os elfos, os maiores membros do reino encantado, com cerca de 1:20 mts.
Neste momento, porém, perdida em pensamentos, com as mãos fechadas próxima ao coração e a cabeça baixa, surgia em sua estatura real, pequena e frágil. Uma lágrima solitária seguiu-se a longo suspiro, sendo enxugada ao mesmo tempo em que a porta abriu-se novamente e um pequeno gnomo entrou.
Gnom Knur aparentava uns 50 anos, tinha barba branca, longa e pontuda e vestia-se rudemente com botas, calças escuras e uma bata esverdeada presa à cintura. Tinha a postura ereta e o caminhar firme típico de quem foi educado com disciplina. O olhar caloroso, entretanto abrandava a rigidez da forma e o conjunto inspirava confiança e força.
O gnomo tinha quase 40 centímetros, mas como ela planava na altura de seu rosto, podiam se olhar e falar em igualdade.
– Majestade. – Disse ao fazer uma reverência.
– Gnom, meu amigo. Preciso de sua ajuda para um assunto muito importante. Não posso explicar os motivos deste pedido, mas sei que posso confiar em você tanto para a execução da tarefa quanto para mantê-la sob o mais absoluto sigilo de todo o povo encantado, exceto aqueles que estarão envolvidos.
– Às suas ordens, Majestade.
– Uma jovem humana que chegou recentemente a Portal do Sol e que está residindo na cabana abandonada precisa ser protegida 24 horas por dia. Tenho motivos para crer que corre risco de vida, de que alguém deseja sua morte. Quero que a vigie e proteja. Nenhum mal deve lhe acontecer enquanto residir naquele local e não estiver aqui sob minha proteção. Isto deve ocorrer dentro de uma ou duas semanas. Crê que vocês e os seus a possam proteger?
– Nada ocorrerá com a jovem, minha Rainha, fique tranqüila. Colocarei meus melhores homens, altamente treinados e completamente armados em turnos constantes acompanhando-a por onde quer que vá.
– Muito bem. Devo acrescentar que ela não poderá sequer suspeitar desta guarda. Em nenhum momento deverá visualizar algum de vocês. Creio que isto não será difícil sendo vocês tão hábeis nas artes do disfarce e camuflagem.
– Tem minha palavra de que não apenas a jovem estará segura como não perceberá nossa guarda. E todos portarão silvos mágicos para chamarem ajuda imediata caso haja necessidade.
– Obrigada. Sua ajuda e fidelidade serão recompensadas. – Despediu-o com um gesto de mãos, a que ele retribuiu com nova reverência e partiu. A Rainha logo o seguiu, retornando à sala do trono.
Sozinha no aposento, Eileen retomou sua aparência e tamanho normais.
– Ela tem que morrer! Agora mais do que nunca! Estava tão certa de sua queda da árvore que mostrei minha forma verdadeira. Se vier a Etera me reconhecerá imediatamente. Não posso permitir. Maldito anjo! Tinha que aparecer naquela hora! – Sentou-se em uma cadeira enquanto falava e ao fim tapou o rosto com as mãos em desespero.
– E agora? Como farei com esses anões estúpidos a rodeando? Sem contar o anjo babão, lógico. Pense, Eileen, pense!!!
Texto registrado no Literar.
Imagem do Castelo da Rainha daqui.