– Querida, acorde. – Ele estava tentando acordar-me com beijinhos no rosto.
– Quero dormir, Anjo. – Estava escuro ainda.
– O sol já vai nascer. Venha comigo à praia. – E continuava com os beijos, apertando-me a seu corpo. Ainda meio sonolenta, agarrei-me a ele buscando um beijo.
– Vamos dorminhoca. – Ele desviou do beijo e deu-me um tapinha nos ombros. Levantei mal humorada.
Não levei o material de pintura. Estava com muito sono para pintar. Sentei ao lado de Adriel e ficamos vendo o dia clarear. O sol nasceu esplendoroso e logo estava inteiro no horizonte completamente azul e sem nuvens. Hoje seria um dia bonito e quente.
Voltamos para a cabana e Tana já estava lá, preparando nosso café da manhã.
– Tana! – Exclamei abraçando-a. Estava com saudades dela.
– Oi, minha menina. Se não parar de me agarrar, o leite vai transbordar. – Era a mesma, ralhando como sempre. Sorri, largando-a e indo sentar com Adriel na mesa. – Quero saber se o menino cuidou bem de você.
– Cuidou sim, Tana. Muito bem, aliás. Adriel foi perfeitamente cavalheiro e gentil. Tana, ele disse que você é uma fada, verdade?
– É sim, menina.
– Depois você mostra suas asas? Quero saber de tudo. Ele disse que você mora em um reino encantado.
– Depois que eu for viajar, Tana. Hoje ainda quero Maise só para mim. – Adriel falou sério.
– Humpf!!! Já não ficou com ela por três dias?
– E vou ficar o quarto. Depois que viajar ficará aos seus cuidados e poderão conversar a vontade e até visitar Etera se quiserem.
– Sério que posso ir lá? Não é proibido para humanos ou coisa parecida?
– Lógico que pode. A Rainha vai adorar conhecer você.
– Na quarta-feira então, Tana. Hoje quero ficar com Adriel e arrumar a cabana com os novos móveis. Amanhã quero descansar, pintar e ler os dois diários de meu pai que faltam.
– Muito bem, menina. Vou avisar a Rainha e preparemos uma festa em Etera para receber você.
– Não é muita coisa para uma simples visita?
– Não é não, mas agora coma. Na quarta-feira entenderá tudo.
– Sim, mamãe. – Falei brincando e comi, ainda intrigada.
Durante a manhã descarregamos e instalamos os eletrodomésticos. Finalmente uma TV decente, música, telefone, microondas, máquina de lavar roupas e uma geladeira decente. Saindo da idade das trevas. Adriel foi à cidade tentar resolver a questão do acesso da internet e a instalação de uma linha de telefone, enquanto Tana e eu esvaziávamos os armários e o guarda-roupas. Adriel traria Marta e mais uns dois ajudantes para os móveis.
O caminhão chegou logo após o almoço e senti-me como uma criança abrindo presentes na noite de Natal. E ganhei um presentão. Estava embrulhado com um bonito papel beje e com laços de fita vermelha. Olhei para Adriel com interrogação, mas ele apenas mandou-me abrir.
– Minha cadeira! Anjo! Ah, obrigada! Não devia ter comprado. É muito chique para a cabana. – Voei para ele, abraçando-o feliz. Por mais que não devesse, era apaixonada por ela e estava contente que ele não tivesse sido tão racional como eu.
– Queria que tivesse algo para lembrar-se de mim. Sabia que era tua cadeira preferida. E ficará perfeita no canto perto ao lado da escrivaninha. Assim a verá quando estiver deitada e pensará em mim. – Ah, que bandido! Como se eu precisasse de algo para pensar nele e sentir sua falta.
– Obrigada, Anjo. Adorei. Será meu cantinho favorito, perfeito para ler. Vou sentir saudades. – Apoiei o rosto em seu peito, para ouvir seu coração um pouquinho.
Arrumamos tudo rapidamente e como estávamos em várias pessoas, Tana sugeriu um churrasco na praia, perto da casa de Adriel. Fomos todos para lá e após comermos ficamos conversando ao redor da fogueira. Antonio era um contador de causos hilariante e rimos muito de suas estórias doidas. Quando foram embora já era tarde.
Adriel e eu entramos para nossa última noite. Não deixei que fosse antes. Queria que dormisse ao menos uma noite em nossa nova cama, infelizmente maior do que a anterior. Era muito bonita e fiquei admirando-a e aos outros móveis novos por alguns momentos.
– Está feliz, pequena?
– Ficou linda, não é?
– Ficou encantadora. Parecida com você. Quente e acolhedora.
– Agora vá se trocar. Vou até minha casa e estarei de volta antes de estar pronta.
– Não demore, anjo. – Fui trocar-me.
Também tinha uma surpresa para ele. Comprei no shopping de São Pedro enquanto ele estava na livraria. Era uma camisola curta, branca, de seda e renda, delicada e feminina. Tinha pensado em não usar, mas era nossa última noite e queria um beijo ao menos. Quem sabe não conseguiria mais do que um beijo?
Esperei-o sentada em sua cadeira, fingindo ler um livro.
…
Texto registrado no Literar.
Imagem da maçã daqui.
Cadeira Bear dos Irmãos Campana daqui.