Do Jornal Notícias de SP – 08/mai
“Quase um mês após o sequestro da herdeira Drew Siacomi as negociações parecem ter chegado a um impasse. Os sequestradores recusam-se a continuar os contatos enquanto a polícia permanecer na casa e informações continuarem a vazar para a imprensa. Eles pressionam a família para que negocie sozinha e não voltarão a telefonar enquanto não forem cumpridas as regras estabelecidas.
A polícia não informou se deixará o caso, mas foi obrigada a abandonar a casa a pedido da família, ficando assim distanciada do foco principal dos eventos.
O investigador Paulo Cresto, responsável pelo caso, afirmou que “a situação é complexa. Investigação e acompanhamento deste tipo de crime são obrigatórios e compulsórios nas regras policiais vigentes. Este é um caso famoso e que atrai atenção mundial. Se saírmos do caso, haveria implicações legais e políticas, com certeza. Ainda mais na eventualidade de um desfecho negativo.”
Pela afirmação podemos concluir que continuarão a investigação por conta própria, à revelia das ordens dos sequestradores.
Carlos Montano voltou a reunir a imprensa para solicitar que parem com a perseguição aos amigos e parentes atrás de notícias. Ele comprometeu-se a convocar nova coletiva assim que a jovem estiver a salvo ou quando houver algum fato relevante.
Os representantes dos maiores grupos jornalísticos aceitaram impor limites ao acompanhamento. O jornal Notícias de SP, a partir de hoje, publicará apenas as notícias que forem autorizadas.”
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Tuan balançava-se preguiçosamente na cadeira da varanda dos fundos. Sentia o calor que vinha da caneca aquecer as mãos. O leite quente adoçado com mel e acrescido de uma pitada de canela fumegava convidativo. Tomou um gole, deixando que o líquido escorrer pela garganta aquecendo por dentro e contrastando com o ar gelado da noite.
O firmamento limpo e sem nuvens após a chuva destacava o cintilar rítmico das estrelas que repousavam incrustadas no manto negro. A lua, cheia e farta, com luz pálida e mística revelava novas formas e contornos para a paisagem que horas antes brilhava ao sol.
Ele deixou-se absorver por aquela noite que explodia em sons e vida.
O silvo do vento soava como um velho rabugento ralhando com as folhas insolentes que atravessavam seu caminho e misturava-se ao coaxar rouco dos sapos no lago e o cricrilar melodioso dos grilos na mata.
Tuan procurava identificar a origem de cada som daquela sinfonia silvestre. Cotia, raposa, cobra, coruja. Esta última era praticamente da família. Descobrira seu ninho ao pé de uma árvore próxima a casa e ouvia o piar característico todas as noites. Gambá, bacurau, cuco, …
– Cuco!?!? – Exclamou surpreso. Não existiam cucos ali e muito menos eram aves noturnas. Aguçou os ouvidos, concentrando-se. Sim, lá estava seu canto, tão característico e diferenciado: cuc-cuu, cuc-cuu, cuc-cuu.
Os cucos são famosos mensageiros de novos destinos e este foi o segundo presságio de mudanças para Tuan.
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Imagem daqui.
Ouça aqui o canto do Cuco e aqui você pode apreciar a sinfonia da noite.