Tomb Raider – Análise

by A Itinerante

O título está em Inglês não porque estão perante uma tradução mas sim porque o slogan publicitário que tem sido bandeira das campanhas promocionais do Crystal Dynamics, estúdio responsável pelo jogo, é um dos elementos que mais define a personalidade deste novo Tomb Raider. “Nasce uma sobrevivente” é mesmo a frase a reter deste reinício de Lara Croft, icónica figura desta indústria que é justamente relançada para o topo. Até mais do que isso, sobrevivente ou sobrevivência, qualquer palavra relacionada com o verbo sobreviver vai provavelmente ocupar bastante do vosso tempo em redor deste novo Tomb Raider. Seja de que forma for, assim que pressionaram o botão para dar início ao jogo, estão a embarcar numa jornada que vos vai marcar.

A serie Tomb Raider viveu dias de glória até entrar em saturação e passou, talvez, a ser um jogo irrelevante, talvez demasiado focado na fama da sua protagonista e menos na experiência de jogo que pretendia oferecer. Quando Tomb Raider Legends tentou mostrar algo mais dinâmico e revigorado, a base de fãs gostou e depois de Underworld ficou vincada a ideia de que Lara estava a regressar à boa forma. No entanto, séries como Uncharted mostraram-se mais aptas para a visão artística e cinematográfica que esta geração lutou tanto para incutir nos seus produtos, o que torna compreensível que o Crystal Dynamics tenha decidido reiniciar a série e renovar o sangue.

Assim sendo temos então este novo Tomb Raider que pretende mostrar que tem toda a herança de uma série que já ditou o passo desta indústria enquanto tenta ser mais cinematográfico e refrescante. Foi uma jornada desafiante mas o Crystal Dynamics conseguiu encontrar um belo meio termo entre o respeito à série e a implementação de uma visão criativa atual e até vanguardista. Todo o trabalho do estúdio demonstra ser fruto de uma equipa que investiu todo o seu talento para levar os detalhes ao extremo e conseguir não só um jogo mas sim um novo mundo, universo e caminho para uma nova série.

Se quiserem medir a criatividade destas mentes que originaram um jogo arrojado, forte e marcante, provavelmente devem pensar mais na série Perdidos e menos em Uncharted. Isto porque todo aquele irresistível envolvimento de uma tripulação perdida numa ilha após um desastre para enfrentar nativos que parecem não lá pertencer numa olha que parece ter capacidades sobrenaturais é algo que nos transporta mais para o mundo das séries de TV, provavelmente mais do que para jogos ou filmes. Tal como na série, tudo parece inocente e sem relação, mas após cuidadosa inspeção parece que surge detalhes a insinuar toda uma gigante conspiração.

Lara Croft vai a bordo de um navio chamado Endurance (Resistência) para encontrar uma ilha chamada Yamatai (só a mim soa como Sim Matai?) para se tornar numa sobrevivente e exploradora. A jornada imposta ao jogador leva o seu tempo até tornar Lara numa exploradora completa, confiante e segura de si. Começamos com uma jovem que vai ter que se superar e deixar de lado as suas inseguranças para salvar o dia. Lara é apresentada de uma forma fascinante, interessante e como uma personagem com a qual nos conseguimos relacionar.

Mais do que a brava luta contra a agoniante dor que vai enfrentar, com a qual o jogador vai sem qualquer resistência ferver para suportar, é toda a credibilidade e humanidade que o estúdio imprimiu no seu trabalho. Sentimos que a personagem é humana, dotada de agilidade credível e de compreensão no uso de armas para quem explorar ambientes selvagens, e acima de tudo sentimos que toda a agonia pela qual vai passar é algo que nos aproxima mais dela e reforça o produto. Não sentimos qualquer excesso para reforçar a componente cinematográfica, sentimos que tudo o que Lara vive e ultrapassa é mais uma forma de a tornar mais forte.

Em alguns momentos sentimos que o enredo não é tão coeso e forte como deveria, alguns pontos mais previsíveis e mais fracos na estrutura surgem e colocam em causa o brilhantismo desta aventura, mas acima de tudo a sensação é a de um produto que pretende ser mais real e humano sem se esquecer que é um jogo e que quer divertir, apimentado pelo aparato cinematográfico que é obrigatório. Afinal de contas um dos maiores problemas da fórmula antiga da série era como tudo continua preso a sistemas arcaicos e sem a espetacularidade visual e artísticas dos AAA do momento. A Lara de outrora era apenas uma boneca envolta em acrobacias impossíveis cujo foco era o tamanho e cor do seu soutien, juntamente com os locais exóticos que percorria, aqui temos uma humana a demonstrar que todo o seu treino vai ter que ser usado para ultrapassar uma situação impossível de prever e que a vai definir enquanto pessoa.

Graficamente o Crystal Dynamics tem nas mãos um produto estrondoso que demonstra bem o poder que estes sistemas de atual geração ainda guardam dentro de si. Tomb Raider parece não ter interrupções, o uso de grutas para mascarar quaisquer carregamentos e as cinemáticas que usam o motor de jogo disfarçam quaisquer paragens e o que temos aqui é um jogo dinâmico a fervilhar com entusiasmo que não quer que o jogador seja retirado da ação. Lara é altamente detalhada e as suas animações graciosas. Esta ilha pode não ser mas parece mesmo ser completamente aberta e livre de exploração.

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