Trails From Zero – Meu Primeiro Contato com Essa Famosa Série

by A Itinerante

Versão em Vídeo (versão em texto mais abaixo):

Há alguns anos, enquanto navegava pelo vasto mundo do YouTube, me deparei com um breve vídeo de gameplay de um jogo que chamou muito minha atenção: Trails From Cold Steel III. O vídeo exibia um combate por turnos repleto de potencial e um visual nostálgico que evocava os grandes JRPGs da era do PlayStation 2. Essa apresentação despertou meu interesse, e decidi mergulhar mais fundo na série.

Para minha surpresa, descobri que se tratava de uma longa franquia chamada “The Legend of Heroes,” que já contava com mais de 8 títulos, todos interligados e recomendados para serem jogados em ordem a fim de compreender plenamente a história.

Atualmente, a franquia possui três arcos concluídos e está iniciando um novo com a série Kuro No Kiseki. Os arcos já finalizados incluem:

– Trails in the Sky, composto por 3 jogos: Trails in the Sky, Trails in the Sky SC e Trails in the Sky the 3rd.

– O Arco de Crossbell, composto por Trails from Zero e Trails to Azure.

– O Arco de Cold Steel, que conta com Trails From Cold Steel I, II, III e IV.

Essa revelação, infelizmente, desanimou um pouco meu entusiasmo pela série. O desafio de atravessar uma sequência de 9 jogos não seria fácil, especialmente considerando minhas limitações de tempo pessoal e a constante inundação de novos jogos que têm surgido nos últimos meses.

No entanto, minha perspectiva começou a mudar quando, neste ano, foi lançado mais um jogo da série, chamado Trails Into Reverie.

Com uma proposta ambiciosa de unir e concluir os três arcos anteriores, um sistema de combate que parecia próximo da perfeição e um vasto elenco de personagens jogáveis, o jogo recebeu inúmeros elogios de canais especializados, principalmente aqueles focados em RPGs. Mais uma vez, minha vontade de explorar a franquia foi reavivada.

Assim, decidi encontrar um ponto de entrada adequado e comecei a jogar Trails from Zero, que é o foco desta análise.

Como mencionei anteriormente, Trails from Zero não é o primeiro jogo da franquia. Antes dele, existe o arco de Trails in the Sky, que é composto por 3 jogos. Como eu desejava acelerar meu progresso na série, encontrei recomendações de que Trails from Zero era um ponto relativamente acessível para iniciantes e procurei um resumo online da trama dos três jogos anteriores (infelizmente, não encontrei nenhum que fosse lá muito bom). Assim, iniciei minha jornada no arco de Crossbell.

O jogo foi originalmente lançado para PSP em 2010 e recebeu uma versão remasterizada para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC em setembro de 2022. Optei pela versão para Nintendo Switch, que, aparentemente, oferece um visual superior em comparação à versão de PS4 (chocado lol).

Depois de cerca de 50 horas, concluí minha primeira aventura em Crossbell, e é sobre essa experiência que vou discutir a seguir. Vamos lá!

Trails from Zero se passa em Crossbell, uma cidade-estado situada entre os dois maiores impérios do mundo do jogo: o Império de Erebonia e a República de Calvard. Com uma tensão constante entre esses dois poderes, Crossbell tornou-se um local “neutro” disputado por ambas as nações.

O protagonista dessa história é um jovem chamado Lloyd Bannings, um aspirante a detetive que sonha em seguir os passos de seu irmão e se tornar um grande policial. Lloyd é convocado para se juntar a um grupo com outras três pessoas que formarão uma nova unidade da polícia em Crossbell, chamada Special Support Section. Essa unidade tem a missão de lidar com pedidos menores dos cidadãos da cidade e, assim, melhorar a relação entre a polícia e a população, que anda bastante desgastada ultimamente.

Os outros três membros principais do grupo são: Elie MacDowe, herdeira de um influente político local; Randolph “Randy” Orlando, um ex-soldado; e Tio Plato, uma jovem prodígio especializada em tecnologia.

À medida que a história se desenrola, descobrimos que, apesar da aparência de felicidade e prosperidade em Crossbell, a cidade sofre com sérios problemas de corrupção, máfias e crimes ocultos. O jogo explora extensivamente o cenário político da cidade e dedica uma parte considerável de sua duração a explicar o funcionamento dela.

Aqui está o meu primeiro problema com Trails from Zero: o ritmo da história. A maioria dos JRPGs que já joguei podem ser divididos em duas partes: uma introdução ao universo do jogo que serve como pontapé inicial para aventura e uma segunda parte em que a verdadeira trama se desenrola. Meu problema com Trails from Zero é a quantidade excessiva de tempo dedicada à primeira parte, a ponto de eu questionar se haveria um plot maior em algum ponto. Passamos inúmeras horas vivendo a rotina policial, resolvendo pequenos crimes na cidade, procurando livros perdidos em bibliotecas e até mesmo participando de corridas com gangues criminosas (sim, eu sei o quão estranho isso pode parecer). Chegou a um ponto em que essas atividades se tornaram monótonas e a falta de “grandes momentos” na história fez com que partes da jornada parecessem arrastadas e sem propósito, quase como um “Simulador de Policial”, por assim dizer.

No entanto, o elenco de personagens principais é brilhante e torna a experiência muito mais interessante. A dinâmica entre eles e suas personalidades cativantes tornaram a jornada consideravelmente mais divertida, e espero ver mais deles nos próximos jogos da série.

No final das contas, há, de fato, um enredo maior que se desenrola, e ele é muito interessante. Quando todos os pontos se conectaram, percebi que muitos eventos que inicialmente pareciam sem importância estavam ligados a algo maior que estava ocorrendo nos bastidores. Os eventos finais do jogo são embalados em muita ação e revelações impactantes, e foi, sem sombra de dúvidas, o momento em que mais me senti entretido com a história. No entanto, isso não altera o fato de que a jornada se arrasta em um ritmo que raramente encontrei em um outro jogo, e eu teria aproveitado mais se o ritmo fosse melhor trabalhado.

Vale citar também que houve momentos em que personagens da trilogia anterior fizeram aparições, e, embora eu os reconhecesse, entendi que esses momentos provavelmente teriam um significado maior para aqueles que jogaram corretamente os três primeiros jogos.

Gameplay

Minha maior surpresa neste jogo foi o sistema de combate e a customização dos personagens, que eram mais profundos do que eu esperava de um jogo relativamente antigo e para PSP.

Vamos começar com a customização. O jogo apresenta um sistema de equipamentos básicos e um sistema chamado Quartz, no qual equipamos gemas para obter habilidades especiais e aumentos de status. O sistema Quartz lembra o sistema de Matérias de Final Fantasy VII, porém é mais complexo e estratégico.

Cada Quartz equipado possui um valor elemental, e as habilidades disponíveis para um personagem dependem da soma dos valores elementais dos Quartz equipados nele. Esse sistema oferece uma liberdade interessante na customização dos personagens, permitindo criar personagens voltados para cura, suporte, dano físico ou mágico, de acordo com a preferência do jogador.

Além das habilidades fornecidas pelo Quartz, cada personagem possui habilidades especiais chamadas Crafts. Essas habilidades são únicas para cada personagem e são aprendidas automaticamente à medida que eles evoluem. Conforme o jogo avança, também são desbloqueados Crafts Especiais que podem ser executados individualmente ou em dupla, oferecendo momentos visuais divertidos e são muito poderosos.

O combate funciona com base em turnos, permitindo que os jogadores movimentem os personagens pelo campo de batalha e usem habilidades que podem afetar alvos individuais ou áreas específicas. É um sistema estratégico, divertido e viciante, e estou ansioso para ver como ele evolui nos próximos jogos da franquia. Os monstros aparecem no mapa, e você pode tentar atacá-los por trás para obter vantagem na luta.

E, como é comum nos remasters atuais, o jogo oferece um modo turbo que acelera toda a jogabilidade. Isso torna momentos de exploração e coleta de recursos mais ágeis e evita as demoras comuns em jogos mais antigos.

Exploração

A exploração em Trails from Zero segue o padrão típico de jogos desse tipo. Embora não decepcione, também não surpreende de forma significativa. Você pode atravessar vários mapas e, às vezes, desviar do caminho principal para encontrar baús com equipamentos e enfrentar monstros opcionais.

Os mapas são visualmente atraentes e divertidos de explorar e ambientação sempre passa a sensação de que estamos em um mundo amplo onde estamos vendo apenas uma porção dele. Isto funciona bem para criar expectativa para os próximos jogos da franquia.

Side Quests

As missões secundárias do jogo funcionam por meio de pedidos de ajuda dos habitantes da cidade. A maioria delas é acessada através de um terminal de polícia, o que facilita o processo para identificarmos elas. No entanto, há casos de algumas que são mais “escondidas” e requerem que você interaja com NPCs específicos em momentos específicos, que não são sinalizados no mapa. Como o jogo segue uma abordagem mais antiga, há conteúdo perdível que não é indicado em local algum, como conversar com um NPC aleatório várias vezes para desbloquear um equipamento ou item. Por falta de paciência para completar 100% do jogo com o auxílio de um guia, optei por focar nas missões que consegui identificar e concluir.

Pós Game

O jogo não oferece atividades exclusivas de pós-jogo, mas você pode continuar ganhando experiência para aprimorar seus personagens e coletar os melhores equipamentos antes de enfrentar a batalha final. O que o jogo proporciona é um sistema de conquistas, onde determinadas realizações concedem pontos que podem ser usados em uma loja especial após concluir o jogo. Essa loja oferece itens como artworks, cinematics e até mesmo a opção de começar um novo jogo+ com alguns de seus itens e estatísticas mantidos.

Conclusão

Trails From Zero desempenhou bem seu papel ao me introduzir ao universo da série The Legend of Heroes. Apesar de seu problema significativo no ritmo da história, os personagens cativantes e a jogabilidade tática repleta de opções de customização deixaram uma impressão geral positiva. Já estou empolgado para jogar os próximos títulos da série, e algum dia espero chegar aos mais recentes.

E confirmando aquilo que outras pessoas podem ter dúvida: Trails From Zero é, de fato, um ponto de entrada sólido para quem deseja conhecer mais sobre a série. Apesar de você possivelmente perder uma ou outra referência ao arco anterior, caso queira encurtar seu caminho adentrando nesta série este talvez seja o melhor lugar para começar.

E que venha agora Trails from Azure!

The Legend of Heroes – Trails From Zero

Plataforma Original: PSP
Plataforma Remaster: Playstation 4, Nintendo Switch, PC
Data de Lançamento: 27/09/2022
Gênero: RPG por Turnos
Desenvolvedora: Nihon Falcom

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